Ana maria Coelho Carvalho*

O menino Zezé, de uma família pobre e numerosa, personagem principal do livro “Meu pé de laranja lima”, encontrava amparo e afeto conversando com sua árvore no fundo do quintal. Um dia perguntou para o pé de laranja lima: -“Por onde você fala? ” E ela respondeu: -“Árvore fala por todo canto. Pelas folhas, pelos galhos, pelas raízes. Quer ver? Encosta seu ouvido aqui no meu tronco que você escuta meu coração bater”. Quando se despedia, o menino dava um abraço apertado no tronco da árvore:-“Adeus, amiga! Você é a coisa mais linda do mundo!”

Concordo com o Zezé, as árvores são lindas. Existem para serem abraçadas e admiradas. Para trazerem beleza ao mundo e serem amigas do homem. Sábias são as pessoas que conseguem ouvir o silencioso sermão das árvores, que se deixam ficar debaixo delas, sentindo sua paz e tranquilidade e esquecendo as ansiedades da vida. Que sabem contemplar a beleza e a majestade de um ipê rosa florido ou de uma laranjeira de flores brancas cujo perfume nos leva para uma infância de pés descalços.

Rubem Alves, em seu livro “O amor que acende a lua”, explica que as árvores vivem para viver pois viver é bom. Com as raízes mergulhadas na terra, não fazem planos de viagem, são felizes onde estão. E as pessoas seriam mais belas e felizes se fossem como as árvores. Cita o exemplo de São Francisco que, de acordo com relatos, pregava aos peixes e às aves. Mas o autor concluiu que na verdade, São Francisco deve ter ouvido a pregação das árvores. Por isso ficou tão manso, tão tranquilo, tão perto de Deus. Ele tinha a beleza das árvores. Estava reconciliado com a vida. Então os pássaros fizeram ninho nos seus galhos e os peixes comeram dos seus frutos que caíam na água…

Gosto de árvores e de caminhar debaixo delas. Tenho uma especial, a sibipiruna que plantei em frente à minha casa. Com cachos de flores amarelas pequeninas, que formam um tapete quando caem no passeio e com folhas miúdas que caem em profusão, como uma chuva fininha. É bom olhar seus galhos balançando ao vento e acompanhar suas transformações. Como o Zezé, sinto até vontade de conversar com ela. Outra árvore especial na minha vida é a mataíba, comum no cerrado e que pode se apresentar na forma de arbusto ou de árvore. Durante dois anos, no meu doutorado, observei a floração de inúmeras dessas árvores e coletei seus visitantes florais, que iam em busca do pólen e néctar de suas pequenas inflorescências brancas. Com auxílio de especialistas, identifiquei 105 espécies de abelhas, 35 de coleópteros, 37 de dípteros e 54 de vespas que se alimentavam nessa planta e que potencialmente poderiam ser seus polinizadores. Sou grata à mataíba por ter-me dado a oportunidade de entender melhor a complexidade das interações insetos-planta e de poder, mais uma vez, maravilhar-me com a vida.

O Zé, meu finado marido, também queria ter uma árvore especial. Quando criança, lá no Carmo, plantou uma moeda de 500 réis para nascer uma árvore de dinheiro. Ele ia sempre conferir, mas não vingou.

*Bióloga – Uberlândia – MG