Marília Alves Cunha*

Mais uma vez encantei-me e não podia deixar de fazer referência a uma crônica do ilustre escritor e historiador Antônio Pereira da Silva. “No tempo das gincanas” – retrato de uma época passada, nem tão longínqua, na qual as pessoas conseguiam divertir-se e muito, de maneira saudável, com brincadeiras alegres que movimentavam a cidade. Eram as gincanas, “uso pacífico e desportivo de ferozes máquinas de duas rodas” que culminavam com provas a serem cumpridas pela “flor da juventude local”. Um relato histórico de uma época e costumes que se perderam no tempo. Interessante o machismo que o autor aponta no texto pois, de acordo com ele, os nomes das moças, fortes companheiras nas provas, raras vezes aparecem nos relatos.

Lá pelos idos de 1957, eu ainda mocinha, lembro-me de ter assistido a várias gincanas pelas ruas de Araguari. O que recordo perfeitamente eram as provas a serem cumpridas, algumas de grande dificuldade. Uma das provas que não me sai da memória: pegar o anel do meu pai, anel de advogado que ele usava no dedo indicador. Achar o anel era fácil, difícil era achar o meu pai… Fotografar uma pessoa bem antiga na comunidade era outra das provas, lembrando que não existia celular e máquinas fotográficas eram raridade. A participação da comunidade uma atração à parte, os domingos se transformando numa grande diversão e todos se movimentando para torcer pelos participantes e ajudar no que fosse possível. Algumas provas eram bizarras e quase impossíveis de serem cumpridas e causavam muita confusão e muito riso.

Como diz o escritor Antônio Pereira, este tipo de diversão foi escasseando e desapareceu. Que pena! As cidades cresceram e perderam esta alegria, esta brincadeira meio intimista, com identidade, na qual as pessoas eram todas meio parentes, senão de sangue, de alma…

Não sei se Araguari fez o registro da história destas maravilhosas gincanas. Se assim não aconteceu, repito – que pena! Sem querer ser saudosista, mas talvez sendo, foi uma época de vivências inesquecíveis em que os jovens, talvez não impermeabilizados pelas loucuras da modernidade, se dispunham a sorrir, brincar e bagunçar o dia inteiro, como se fossem crianças.

*Educadora e escritora – Uberlândia – MG