Marília Alves Cunha*

Um jornalista pertencente aos quadros de uma imprensa que defende o indefensável e pode, portanto ser classificada como uma imprensa de aluguel, disse há algum tempo atrás que a corrupção perdeu o “glamour” que tinha outrora nos tempos de Lula/Dilma. Muito pequena e mixa agora, para o articulista. Recorda ele, com saudade, do tempo em que “ouvia falar” de corrupção em grandes estatais, grandes empreiteiras nacionais e internacionais. Saudade de uma corrupção grandiosa, quase hollywoodiana, conforme o jornalista.
Se isto não é uma ironia cínica, torna-se preocupante. Admirar a grande corrupção como se ela desse alguma importância ao país que a pratica é, no mínimo, uma desfaçatez e prova inconteste de como as mentes se deturparam em 16 anos de poder…
Os corruptos assaltam diretamente o povo, roubando-lhes o direito á educação, segurança, saúde, a uma vida digna. Os corruptos nos dão muitas e infelizes lições: nos ensinam que é necessário ficar “esperto” para se dar bem na vida sem fazer força, que a justiça tem dois pesos e duas medidas, que a impunidade foi inventada e faz até parte das leis, para proveito e gozo maior dos poderosos. Que é preciso sonegar, pois os impostos pagos (velha desculpa) são mal utilizados pelos governos. Os corruptos formam uma escola de vício e crimes, um exemplo mortal para a formação do caráter e personalidade de jovens e crianças.
O que se espera de um povo que convive pacificamente e até considera normal o elevado grau de corrupção que existe neste país e nos afronta diuturnamente com total descaramento, transformando em desânimo e frustração as esperanças ainda existentes?
Enquanto o Brasil padecia na UTI, com grande número de doentes infectados pelo Covid 19, enquanto muitos morriam, às vezes até por falta de assistência médica, enquanto alguns se esforçavam para prestar socorro às populações carentes, à mercê dos efeitos catastróficos sobre a economia, uma outra história cruel se desenrolava nos bastidores da pandemia. A velha e repulsiva corrupção tramava voltar ao palco. E voltou com grande gala! Alguns governadores e prefeitos que estão sendo investigados, assessorados por seus asseclas, voltaram a agir. A mania de apossar-se do alheio coçou como uma micose a abrasar mãos de bandidos, que aproveitaram-se da abertura dada pela emergência, necessidade dos gastos públicos e liberdade de agir no combate à doença. Entregaram-se ao crime, como se fossem vítimas de uma doença grave e incurável da qual não podem afastar-se.
O jornalista que admira os grandes corruptos e corruptores e que não gosta de mixaria deve estar satisfeito. Matou a saudade…

*Educadora e escritora – Uberlândia – MG