José Carlos Nunes Barreto*

“O Espaço é a morada do Homem, mas pode ser também a sua prisão” ( Milton Santos)

Revisito artigo publicado no saudoso Jornal Correio em setembro de 2007, sob o título “Nosso hábitat”, aproveitando para atualizá-lo. Ajudei a formar 7 turmas de arquitetos e urbanistas, num grande centro Universitário desta cidade, e após essa convivência, meu olhar sobre uma pólis, é também um pouco o daqueles jovens. Como cereja do bolo, formei um filho na primeira turma de arquitetura da UFU.
Por isso, quando ando numa calçada, me preocupo com a função dela. Da necessidade da sua existência, e do bom estado da mesma. Porque sem ela, as pessoas vão para o “leito carroçável” disputar espaço com os carros. E muitos atropelamentos acontecem, nessa intensa urbanização caótica de nosso tempo. A forma também é importante. Calçadas muito estreitas e escorregadias, também são armadilhas para pedestres. Que se acidentam, principalmente se forem idosos. Com estas comorbidades no espaço urbano, importantes vias da cidade de Uberlândia, se transformam em palco de constantes acidentes.
As pessoas preferem muitas vezes, andar na via principal entre os carros, a enfrentar calçadas totalmente fora de padrão, desniveladas, com buracos e cheia de obstáculos. No bairro onde construí uma casa, na zona sul , as caminhadas só acontecem nas ruas, o que coloca pessoas em risco, e tem gente que sai de casa buscando saúde , mas encontra mutilações e até a morte. E qual é o papel do poder público, se não regular, punir os eventuais abusos dos donos das calçadas, e educar os cidadãos, com campanhas para alertar os pedestres contra esses riscos, indago…
Também colocar temporizadores para pedestres nos sinaleiros, enfim, cuidar da segurança de forma ampla e irrestrita. O exemplo dos temporizadores é crucial: muitos sinais não o possuem, e onde existem, estão mal regulados, o que gera outro absurdo- obrigar cidadãos a correrem dos carros, enquanto atravessam a faixa de pedestres.
Uma cidade com 700000 habitantes, precisa cada vez mais de campanhas educativas, tanto para pedestres, quanto para motoristas, ciclistas e motociclistas. Infelizmente as campanhas publicitárias do governo Odelmo Leão, são rasas e somente voltadas à sua propaganda eleitoral visando a reeleição. As cidades de Curitiba, Brasília, Santos e Niterói são excelentes benchmarkings para seus secretários municipais aprenderem a gastar dinheiro público mais inteligentemente, apostando na vida, visando criar uma cultura cosmopolita e preventiva, e não fazer a roleta da morte, abrindo covas e comprando milhares de sacos mortuários.
Parafraseando o pensamento do geógrafo e imortal Milton Santos: em Uberlândia, o espaço pode ser o túmulo do homem.

*Pós Doutor e Sócio da DEBATEF Consultoria