Gustavo Hoffay*

Dizia-se entre alguns religiosos, lá pelo século 17, que o mais importante para o homem não é dar glórias a Deus ou gozá-lo por toda a eternidade. Aqueles, teólogos da Assembléia de Westminster, diziam que o principal objetivo da raça humana era ser econômica e financeiramente segura: ter o que desejar em termos materiais, o culto ao corpo, uma bela e grande residência, boas roupas, jóias e terras. Segundo eles o tempo presente era muito mais importante que a eternidade e o que deveria ser valorizado era a criatura…. depois o criador! A saúde da alma podia esperar, o mais importante era a beleza física, o status. Hoje,passados pouco mais de quatro séculos desde aquela Assembléia, algumas religiões continuam em alta embora atreladas à insatisfação pessoal de muitos dos seus fiéis com a sua própria situação financeira, com a sua delicada situação social e econômica. Apela-se então a Deus para ganhar na Mega Sena, para que um bom emprego seja conquistado, para que um homem ou uma mulher complete a felicidade de alguém e desde que um ou outro tenha condições financeiras de possibilitar essa “bem aventurança”. Assistimos pessoas voltando-se para Deus unicamente em função do seu próprio fracasso ou porque já cansaram de errar em suas escolhas ou projetos de vida; estão usando de Deus como se Ele não passasse de uma “tábua da salvação”, um amuleto, um patuá, aquele mascote ou apelo em forma de cruz enquanto pendurado no retrovisor de um carro ou afixado na parede da sala de casa ou do local de trabalho. Vejo que o conceito equivocado de Deus, para muitos, infelizmente continua o mesmo ou quase o mesmo; sim, porque gozar do sentimento de um Deus presente em nossas vidas é algo que parece “retrô” em nossos dias, algo fora de propósito e superado pelo emprego da lógica; usa-se Deus como a “algo” que deve estar à nossa disposição e nos momentos em que mais precisamos da Sua presença, não importando a religião, a seita ou mesmo o esoterismo; alguns até admitem um mix de todas as crenças, uma salada de ritos, convicções e liturgias no intuito de alcançarem uma bem-aventurança em seus negócios. Enfim, o que deveria ser uma pureza doutrinária vem tornando-se cada vez mais em um negócio que não exige mudança de caráter e de vida daqueles que procuram por soluções imediatas para os seus problemas cotidianos. Na grande maioria das pessoas que procuram pela ajuda “do alto”, não vejo ou sinto desprendimento, renuncia ou humildade, mas assisto a promessas que mais parecem visar uma auto-realização ou alguma espécie de enfrentamento para valorização das suas pessoais qualidades e habilidades a serem admiradas e comentadas por terceiros. Religião e prosperidade é um casamento que parece muito mais consolidado do que pode-se imaginar e ,ao que tudo indica, uma ruptura entre ambas é algo cada vez mais improvável de acontecer. Mais que nunca tem-se visto que a religião vem servindo como a um trampolim para a obtenção e manutenção de uma boa estabilidade econômica de vida, ao contrário de fomentar a valorização do ser humano perante a Deus e oferecer-lhe a sagrada oportunidade de ter uma abençoada qualidade de vida, independentemente do valor do seu saldo bancário. O Jesus dos dias atuais parece encorajar a riqueza e a ganância pelo dinheiro, enquanto o Jesus de ontem explicava que “mais bem-aventurado é dar do que receber”. Se hoje são muitos os que rezam para que Jesus não os desaponte, deixo claro que no meu tempo de criança rezávamos para não desapontar Jesus. Porque já não ora-se tanto mais a Deus por graças e bênçãos (certamente muito mais necessárias e valiosas) do que por riqueza? Qual dinheiro e que quantia será suficiente para combatermos o vírus Corona? Se há meios de vencermos essa pandemia, certamente será através da disciplina de hábitos e da fé depositada em Deus, para que sabedoria e persistência sejam dadas a cientistas do mundo inteiro e que, diuturnamente, têm debruçado-se sobre fatigantes e complexas pesquisas na busca por alguma vacina realmente eficaz e ainda por tratamentos menos fatigantes a todos aqueles que tiveram a infelicidade de infectar-se. Deus não é um negócio, não é uma moeda de troca; Ele é a Boa Nova e quer escutar-nos em nossas angustias e problemas cotidianos, Ele deseja ajudar-nos mas, antes, quer ouvir as nossas súplicas originadas da humildade, impõe obrigações e exigências, leis e proibições, tal e qual a um pai amoroso que nunca deixa de educar e corrigir os seus filhos.

*Presidente do Conselho Curador da Fundação Frei Antonino Puglisi
Ex-Diretor do Conselho Municipal Antidrogas
Autor do blog https://www.facebook.com/www.palavraevida.com.br
Uberlândia-MG