Antônio Pereira da Silva*

Folia de Reis é manifestação folclórica bastante praticada na região. Em Uberlândia são mais de 40 grupos. A Folia Pena Branca é a mais antiga da cidade. Seu “Primeiro Capitão” é Enercino João da Cruz. O resto do pessoal mora todo no bairro do Patrimônio. Enercino está na Folia desde os 13 anos de idade – hoje tem mais de 65. Antes dele, o Capitão pioneiro foi o Adolfo Atanásio, já falecido. Naqueles tempos, havia outras Folias no bairro e os Foliões mais conhecidos eram o Sô Vito, Levino, Afonso, Sabiá, João Bagunça… e outros.
Atualmente, a Folia Pena Branca sai no Natal e encerra sua “viagem” no dia 6 de janeiro, mas todos pousam em casa. Saem às 7 horas da manhã e ficam liberados às 10 da noite. Gira ali pelo Patrimônio mesmo. Antigamente, não. Eles saiam à meia-noite do dia 25 de dezembro e só voltavam no dia 6 de janeiro. Pousavam onde chegavam ao anoitecer. O Patrimônio tinha poucos moradores e as Folias iam para outros bairros e até para a zona rural. Quando chegavam nas fazendas, era aquela festa. Pousavam na própria sede ou nos paióis, dependendo do espaço disponível. Mas, antes do descanso, tinha catira, pagode, truco, comilança etc…
Antes de sair, bem cedinho, o pessoal se reúne na casa do Capitão. Rezam o terço e tomam uma beberagem mística feita de cachaça e raízes que serve para fechar o corpo. Esse fetiche inicial talvez seja remanescente do tempo em que não havia paz entre as Folias. Quando uma se encontrava com a outra, entravam numa disputa que chegava às raias da violência. Primeiramente brigavam nos versos. Uma folia cantava a metade de uma estrofe e esperava que a outra completasse. Quando uma delas titubeava, começava a pancadaria. A vencedora na cantoria invadia a outra tentando arrebatar bandeira, instrumental e as esmolas recebidas. Era a hora do pau quebrar.
A Folia Pena Branca já topou muita briga. Hoje é diferente. Os foliões da Pena Branca, protegidos por Jesus e os Reis Magos que iluminam sua viagem, saem tranquilos. São dezesseis foliões tocando duas violas, dois violões, dois cavaquinhos, uma caixa e dois pandeiros. Segundo a crença dos seus membros, os Reis Magos eram músicos e tocavam caixa, pandeiro e viola. Eles acreditam nisso tanto quanto no nascer do Cristo. Sua viagem é para anunciar a chegada do Menino. Cantam e dançam porque Jesus chega com alegria. Ele nasceu para todo mundo. E os foliões vão de casa em casa contando essa novidade. Os Reis Magos, Jesus e Maria gostam muito dos foliões, ajudam-nos e alumiam os seus caminhos. Mas não aceitam desertores. Aquele que falha um ano tem muitos atrapalhos em sua vida.
A organização da Folia tem a seguinte estrutura: Capitão, Alferes, Resposta, 2a., 3a., outras vozes, mais o talão (que dá o agudo final).
O palhaço também tem a sua explicação. Quando Jesus nasceu, o palhaço fazia gracinhas para os “herodes” (soldados romanos), entretinha-os enquanto Nossa Senhora escapava com o Menino. A Folia Pena Branca não tem palhaço, mas conhece a sua tradição. O palhaço chama-se Caetano e a sua mulher, Catirina.
As melodias e as letras das músicas da Pena Branca são tradicionais, imutáveis, mas eles inventam outras, geralmente improvisadas na oportunidade de pedir uma esmola ou fazer um agradecimento.
Hoje existe Paz entre as Folias que se organizaram numa Associação cuja sede fica na rua Barão de Ouro Preto, 73. A festa final da Pena Branca não é mais exclusiva. Seus membros se reúnem no dia 6 de janeiro com as outras folias numa confraternização na sede da associação. Um dos presidente que mais tempo ficou à frente da Associação foi o professor Alair José Rabelo, devoto há quase 60 anos dos Reis Magos.
(Esta crônica foi escrita há muitos anos. Alguma coisa pode ter mudado.) (Fonte: Enercino João da Cruz).

*Jornalista e escritor – Uberlândia – apis.silva@terra.com.br