Ivan Santos*

O povo brasileiro desconhece a burocracia que impera em serviços públicos, razão por que muitas pessoas consideram como ineficientes os gestores governamentais. Em 1982 entrevistei, num programa de televisão, o então ministro da Desburocratização, Hélio Beltrão, que lutava para desburocratizar os serviços públicos nacionais. Com singular senso de humor, Hélio Beltrão, um experiente empresário carioca, narrou o drama de um agricultor mineiro que produzia mel de abelhas em Manhumirim, na divisa de Minas Gerais com o Espirito Santo e vendia o produto à margem da BR-262.

Certo dia um viandante que passava pela rodovia Rio Bahia, conheceu o mineiro vendedor de mil e recomendou-lhe que registrasse o produto para vendê-lo no Rio. O apicultor amador gostou da ideia e decidiu registrar o produto. Começou a odisseia por repartições mineiras onde um burocrata lhe disse que não sabia se mel, produzido por abelhas com néctar de flores, era produto de origem animal ou vegetal. Na dúvida, pediu-lhe que consultasse o Ministério da Agricultura. Lá, outro burocrata informou que o mel produzido em Manhumirim continha néctar de flores de cafezais do Espirito Santo e, por esta razão, deveria ser registrado primeiro naquele Estado para não ser considerado produto de contrabando em Minas Gerais.

Com as informações que recebeu, o agricultou começou a reunir documentos. Depois de formar um calhamaço compareceu à repartição competente, em Minas onde outro burocrata pediu-lhe que mandasse reconhecer todas as firmas dos documentos. Atendido o pedido, o agricultor voltou à repartição e ouviu outro burocrata dizer: “Estes documentos não valem mais porque o Ministro da Desburocratização baixou um decreto que acabou com a exigência de firma reconhecida; o senhor precisa voltar e trocar todos os papéis que tiverem firma reconhecida”. O próprio ministro espantou-se quando soube da conclusão do burocrata que atendeu o a apicultor.

Hélio Beltrão disse que a burocracia no serviço público brasileiro é indestrutível porque nasceu e prospera na cabeça dos burocratas desde o desembarque de Dom João VI no Rio de Janeiro em 1808. Segundo Beltrão, se a burocracia no serviço público do Brasil for reduzida a 50%, milhares de cargos serão desnecessários e extintos em todas as repartições públicas nas quais alguns funcionários se ocupam apenas em bater carimbos. Disse também que a capacidade intelectual dos burocratas para criar dificuldades é infinita e sádica.

*Jornalista