Não é fácil admitir racionalmente o cinismo de alguns agentes políticos que hoje em dia dedicam-se a defender causas próprias do grupo social que representam. Em defesa de situações indefensáveis, o time da sinistra emite constantemente declarações irreverentes com a intenção de embolar qualquer jogo e escamotear a verdade. A mais deslumbrante façanha desse gênero, segundo o jornal “Folha de S. Paulo”, foi cometida no passado recente pelo laureado petista, Delúbio Soares, réu do Mensalão. Disse ele, com a maior cara de pau, segundo o jornal paulista, que “o Mensalão foi um boato”. E justificou assim: “Quando eu era menino, lá em Buriti Alegre, tinha o jornal de fatos e boatos. A denúncia (do mensalão) vou dizer para vocês: é um boato. Os fatos eu já expliquei na defesa prévia”. Delúbio foi acusado pelo Ministério Público de ter sido operador do Mensalão. O então influente petista percorreu o Brasil para convencer os brasileiros de que ele era inocente e que o Mensalão foi um boato ou uma simples intriga da Oposição para desestabilizar o Governo do PT. A mistificação no processo político brasileiro hoje é impressionante e difícil de explicar. É fascinante ouvir ministros e parlamentares acusados de conivência com maracutaias ou corrupção, proclamar a própria inocência com cinismo extremo. Se fosse vivo, o irônico esquerdista Mario Lago, comunista histórico, certamente diria que “a esquerda no poder esnoba e se desmancha em orgasmos múltiplos”. A esquerda no poder, ao comer melado, lambuzou-se fartamente, “sem medo de ser feliz”, segundo declarou o ex-governador da Baia e ex-ministro da Defesa, Jacques Wagner. Por apoiar a tática revolucionária comunista, Mario Lago foi preso várias vezes. Convidado pelo Partido Comunista russo, Lago visitou Moscou 1957 e decepcionou-se com o regime que viu com os próprios olhos. Rejeitou o autoritarismo comunista e, ao retornar ao Brasil, declarou: “Neste País a esquerda só se une na cadeia”. Irônico, cínico, intelectual de escol, compositor, ator de novelas, Mário Lago foi irreverente e, ao mesmo tempo, cáustico crítico da esquerda utópica. Aos novatos esquerdistas Lago ensinava: “Mintam sempre. Informem que vocês foram torturados e que sofreram as agruras da ditadura militar. Mentir é importante para a nobre causa da sinistra”. Fidel Castro, símbolo da esquerda nas Américas, admirado por intelectuais como Gabriel Garcia Márquez, Oscar Niemeyer, Chico Buarque e Luiz Fernando Veríssimo, tem uma convicção esquerdista salvadora, segundo a qual, “para higienizar o Estado, só cadeia ou paredón”. A esquerda brasileira moderna pensa diferente de Fidel Castro. Para esta, “el dinero del gobierno es la salvación”.
*Jornalista