O Baía escrevia pitorescas crônicas para o jornal “O Triângulo”. Guardei todas. Numa delas ele comenta a estrada pioneira do Fernando Vilela que, daqui, foi até Itumbiara e Ituiutaba, passando por Xapetuba, Tupaciguara, Monte Alegre e Avatinguara. Todo escriba que se refere a essa estrada só conta os seus sucessos e a reviravolta, a partir dos 940, dos motoristas com greves e violências contra ela. Baía conta pormenores e as dificuldades da empresa que acabou tendo que fechar mesmo.
O primeiro problema da empresa foi a época em que construiu a estrada. Não havia estradas por aqui, não havia carros (só de bois), não havia motoristas nem mecânicos. Foi uma temeridade. A construção foi na base da enxada e da picareta. Paes Leme, que era o diretor técnico, fez pelos espigões o que facilitou nas obras de artes. Os carros estragavam as estradas. Não havia pneus, as rodas eram duras, de aço, ou, então, com uma cobertura de borracha. Não havia amortecedores. As rodas faziam sulcos, como os carros de bois (as rodas eram semelhantes, com diâmetros menores), por onde escorriam as águas de chuvas. As areias depositadas durante as chuvas eram um atoleiro seco, fora das águas. Nas chuvas, o barro era o atoleiro. Outra dificuldade inicial foi o transporte de mercadorias. Um caminhão daquelas duas primeiras décadas do século XX, carregava quinhentos quilos. Ao lado da estrada, tinha outra, boiadeira, para que as juntas de carros de bois chegassem aos carros atolados para desatola-los.
Os motoristas e os mecânicos foram os próprios empresários. Os Agostinho, gente de Portugal, foram pioneiros nesta atividade.
Com o passar do tempo, os pedágios arrecadados e as passagens dos ônibus não davam conta da recuperação das estradas que viviam cheias de buracos e da aquisição de gasolina. Não havia postos na rodovia, os carros tinham que carregar latas de gasolina. Os gariteiros (que tomavam conta das porteiras onde se cobrava o pedágio), de noite, dormiam e era um sacrifício para os motoristas acorda-los para abrirem os cadeados.
A empresa tinha uma grande área em Uberabinha. Era um quarteirão inteiro, entre Cesário Alvim, Floriano Peixoto, Coronel Antônio Alves e Buenos Ayres. Além disso tinha área onde foi o Liceu de Uberlândia. Com o esvaziamento do capital, Fernando Vilela foi vendendo tudo, todas essas áreas, mais suas propriedades particulares, que eram muitas casas e terrenos, para suprir a necessidade de verba da empresa.
Isso, contava o Baía.
(ATENÇÃO! Estou concluindo um livro que conta a História da estrada construída por Fernando Vilela e Paes Leme, o empurrão econômico inicial da nossa história. Não se esqueça de adquirir quando sair.)
*Jornalista e escritor