Marília Alves Cunha*

No Brasil sempre se deu pouca ou nenhuma importância à educação, esta educação que se torna mantra na boca de políticos em época de eleição e, após, toma o rumo dos escaninhos do esquecimento. O resultado está aí para quem quiser ver: no crescimento da violência que atinge níveis absurdos, no descaso com que os políticos tratam os interesses do povo e na subserviência do cidadão, que se fragiliza ante a ação nefasta dos poderosos, na falta de valorização dos professores, no total desinteresse dos governos pela ciência e tecnologia, no grande número de evadidos no EM, na vida cada vez mais sem qualidade de um povo sujeito às chuvas e trovoadas de políticas públicas mal planejadas, mal executadas e até inexistentes, no desperdício do dinheiro público, na corrupção que assola este país do Oiapoque ao Chui, corrupção que nos afronta e envergonha todos os dias e nos leva ao caos moral e social.
Leio hoje nos jornais informe recente do Instituto de Estatísticas da Unesco, mostrando que grande parte dos jovens da América Latina não alcança níveis apropriados de proficiência em leitura. Milhões de estudantes concluem o Ensino Fundamental sem conseguir ler e interpretar pequenos parágrafos. E o Brasil é lanterninha neste assunto… Que condições terão estes jovens de enfrentar o futuro, prenhe de novas descobertas e tecnologias, futuro que se revelará cada vez mais desafiador e competitivo? Claudin Constin assim se manifesta em sua coluna na Folha de São Paulo: “Não é mais suficiente ter um nível mínimo de alfabetização. Não ter competência leitora trás uma incapacidade de viver em sociedade, poder votar e entender propostas dos candidatos e seus próprios direitos e deveres como cidadãos, ainda mais num mundo em turbulência como o que vivemos, em que populismos se constroem a partir do manuseio de corações e mentes dos que não aprenderam (ou não puderam aprender) a pensar”.

Temos grandes e conhecidos exemplos de países que saíram do atraso e do sub-desenvolvimento para alçar importantes posições no concerto das nações. Milagre? Não, soluções milagrosas não existem. O que houve sim, foi um maciço investimento em educação. A qualidade das escolas foi priorizada, assim como foi dada enorme relevância à formação e treinamento dos docentes. Os alunos passaram a ser constantemente avaliados e acompanhados em seu progresso e dificuldades, para que recebessem um ensino de qualidade, acorde com suas necessidades. Fui professora primária nas décadas de 60 e 70. Tenho muito orgulho do meu trabalho na educação, apesar de sofrer hoje, como aposentada, do minguado salário que recebo ao final do mês ( ultimamente pior, quando há parcelamentos e, muitas vezes, não há pagamento…). Sempre trabalhei em escolas carentes, com alunos de baixo nível social. Sorte minha! Cada aluno era uma batalha a ser ganha, cada passo de sua aprendizagem uma vitória a ser conquistada, cada dia na escola uma luta na tentativa de impedir que as más condições de vida interferissem no aprendizado dos alunos. Lembro-me da importância que era dada à redação e leitura. A pessoa que sabe ler e escrever, de verdade, estará preparada para outras aprendizagens. E aqueles que não sabem ler e escrever (de verdade) estarão sujeitos a ter fragilizada a sua cidadania, perdendo a oportunidade de formular seus próprios juízos, formar uma consciência crítica e não fazerem parte da grande massa de manobra, formada por indivíduos que não sabem pensar. De acordo com dados do IMP, no Brasil apenas 30% dos discentes saem do nono ano com aprendizado adequado em leitura e interpretação. É preciso ultrapassar esta barreira. Do jeito que as coisas vão, será quase impossível a travessia da ponte para o futuro.

*Educadora – Uberlândia – MG