Ivan Santos*

O presidente Michel Temer, que conhece de cor e salteado a alma e os instintos dos representantes do povo no Congresso Brasileiro, usou o tradicional “jeitinho caboclo” e livrou-se de duas flechadas mortais arremessadas contra ele pelo ex-procurador geral da República, Rodrigo Janot. Foi arte de especialista que conhece o DNA dos representantes dos atores do Congresso e o código de sobrevivência que os move. Depois da borrasca, o presidente Temer sabe que, a partir de hoje, precisa reconstruir a base de apoio ao governo dele no Parlamento. Não vai ser fácil, principalmente na Câmara, onde os mais de 300 picaretas identificados por Luiz Inácio Lula da Silva ainda estão lá e se preparam para conquistar bondades e benesses para encantar eleitores na próxima eleição. Com estes, a conversa de Temer deverá ser curtinha, na base do tradicional “toma lá, dá cá”. O povão ignora que, por esforço e habilidade do Presidente, o Congresso aprovou o “Teto de Gastos do Governo” e, com esta medida, valorizou o real em 21% nas operações realizadas na Bolsa de Valores que se descolou da crise econômica interna. O governo reajustou a Bolsa Família em 12,5 acima da inflação, construiu mais de 10 casas populares em conjuntos que estavam paralisados. O Governo também garantiu, apesar da aguda crise financeira e das pedaladas que debilitaram o Tesouro, mais de 75 mil vagas do Fies para estudantes pobres. Os efeitos mais positivos na política social e na econômica, segundo vários analistas qualificados, ocorreu com a redução da taxa de juros que esteve em 14,15% e está hoje em 7,40% (ainda alta). Temer assumiu o governo com incômoda recessão num cenário de corrupção jamais visto neste País. O combate à corrupção continua e a Operação Lava Jacto é o símbolo dessa luta comandada pela Justiça e pelo Ministério Público. Agora chegou a hora de o presidente mostrar ao País a disposição que tem o Governo dele para promover reformas, entre as quais a da Previdência e a Tributária. Não vai ser fácil uma nem a outra. Os deputados e senadores, que priorizam a própria reeleição, dificilmente aceitarão, sem contrapartida, aprovar medidas impopulares antes de uma eleição. Também não será fácil convencer o Congresso e um presidente eleito pelo povo em 2018, a promoverem reformas que os deixem tão impopulares quanto é hoje o presidente Temer. O Brasil está numa sinuca de bico. Para sair dela vai ser preciso a intervenção de um jogador especial que também seja especialista em desatar nós cegos. Aparentemente, o nome desse astro iluminado ainda não apareceu debaixo dos céus da pátria. Hoje o presidente Temer, apesar dos esforços que já empreendeu para tirar o País da crise, continua a enfrentar baixíssima popularidade e acusação de trabalhar para retirar conquistas sociais da sociedade. Então é possível dizer agora, sem medo de errar, que começa hoje o maior desafio ao Governo do presidente Temer que é articular politicamente para aprovar, pelo menos, uma minirreforma da Previdência e um arremedo de reforma tributária.

*Jornalista