Nas minhas pesquisas, de vez em quando, resvalo em fatos que me assustam. Por exemplo, lendo o grande deputado (e senador) negro Abdias do Nascimento, soube que ele fundou o Teatro Experimental do Negro, em 1944. Segundo ele, foi o primeiro grupo teatral exclusivamente negro criado no Brasil.
Lendo o jornal “O Lábaro”, de Monte Alegre, da década de 1931, encontrei nota informando que o Centro Negro Theatral Uberlandense estava se apresentando naquela cidade. Assustei. Uberlândia furara o Abdias. Não satisfeito busquei nos jornais uberlandenses da época alguma notícia a respeito. Encontrei no “A Tribuna” e no “O Repórter”, do início daquela década. O fundador tinha sido o Chico Pinto, irmão do Grande Otelo, e a sua sede era na rua Guaranys (hoje Prof. Pedro Bernardo). Publiquei esse achado em minha coluna no falecido Correio de Uberlândia, há muitos anos atrás.
Encontrei outras coisas interessantes das quais não vou falar para não tomar muito tempo.
De todos esses encontros o que mais me surpreendeu foi o que descobri durante as pesquisas que estou fazendo sobre as estradas do Fernando Vilela que, se Deus quiser, serão transformadas em livro.
Waldemar Corrêa Stiel, historiador paulista já falecido, publicou, em 2001, o livro “Ônibus – uma história do transporte coletivo e do desenvolvimento urbano no Brasil”, pela Comdesenho, de São Paulo.
Embora o seu livro cuide mais do transporte urbano, Stiel avança pelas construções pioneiras de estradas para veículos automotivos e destaca a famosa “Estrada do Vergueiro”, como a primeira no país, de 1913. É uma estrada antiquíssima, mas sempre foi para tropas e carros de bois, ligando São Paulo a Santos. Em 1913, ela foi macadamizada e adequada para receber automóveis. Depois dela, o autor registra outras estradas construídas no país, no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. De Minas, ele anota a estrada de Sacramento a Araxá, de 1914, e a estrada do Fernando Vilela, de Uberabinha a Monte Alegre do mesmo ano. Coloca a de Sacramento como anterior à de Uberabinha. Stiel cai em equívoco: a estrada do Fernando Vilela foi inaugurada em 1912, em Monte Alegre. Exatamente no dia 7 de setembro, portanto, antes da Estrada do Vergueiro. No dia 30 de setembro, entrou em Monte Alegre o primeiro carro de inspeção da Companhia dona da estrada. É bem possível que o trânsito tenha tomado impulso a partir de 1913. Afinal não havia, em todo o Brasil Central, além dos da Companhia, nenhum automóvel, nenhum motorista, nenhum mecânico, nenhum posto de gasolina, nenhuma casa de peças e ninguém tinha visto um.
Esta data, 7 de setembro de 1912, está registrada em publicações de diversos cronistas, entre eles, Tito Teixeira, Jerônimo Arantes, Waltercides Silva (inédito) e possivelmente outros. O registro mais interessante foi o feito pelo próprio construtor das estradas, o engenheiro Ignácio Pinheiro Paes Leme, em artigo inserido na Monografia “Município de Uberabinha”, do Cônego Pedro Pezzuti, publicada em 1922, à página 55: “… começaram-se os trabalhos de construção em Junho de 1912 e a 7 de setembro do mesmo ano, inaugurava-se em Monte Alegre o primeiro trecho de 72 quilômetros, partindo de Uberabinha.”
A partir de 7 de setembro de 1912, pelo menos os carros da empresa, principalmente caminhões e automóveis, começaram a circular pela estrada levando funcionários e materiais para a continuidade da obra, já que ela não parou em Monte Alegre. Ela continuou, sem perda de tempo, de Xapetuba para Tupaciguara e daí até Santa Rita (Itumbiara); de Monte Alegre a Vila Platina (Ituiutaba), via Avatinguara e, daí, a Santa Rita.
Portanto, salvo prova em contrário, a PRIMEIRA ESTRADA DE RODAGEM CONSTRUÍDA NO BRASIL FOI A DO FERNANDO VILELA, DE UBERABINHA A MONTE ALEGRE DE MINAS.
* Jornalista e escritor
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