A República brasileira em 15 de novembro de 1889 foi um acidente. Se o povo tivesse tomado parte, não sairia. Quando, um depois, no dia 16 de novembro, o major Solon levou ao imperador Pedro II a comunicação de sua deposição e da instauração da República, tratando-o por majestade, alteza etc e pedindo licença pra retirar-se, Minas Gerais já sabia do desabamento do Império desde a tarde do dia anterior, por telegrama. O governador Visconde de Ibirituma foi deposto e foi nomeado novo governo.
Em Uberabinha tinha muita briga entre conservadores e liberais, mas não sei de republicanos. O primeiro clube republicano do Triângulo foi o do Prata, com sete membros. O seguinte foi o de São José do Tijuco (Ituiutaba), depois veio o de Uberaba em 1889, em represália à visita indesejada do Conde d’Eu, futuro imperador.
A notícia da proclamação chegou a Uberaba no dia 16. Nada se fez. Quando o grande republicano, Costa Machado, chegou de viagem, reuniu o povo e confirmou a proclamação. Saíram pelas ruas aos vivas acompanhados pela Banda União Uberabense, tocando a Marselhesa, hino francês. Curioso isso, enquanto não se oficializou o Hino Nacional Brasileiro, nas ocasiões cívicas, o Hino executado para a Pátria nova era a Marselhesa.
Costa Machado aprontou: demitiu todo mundo, nomeou seus cupinchas e já estava pronto para demitir juiz e promotor, câmara e tudo, quando chegou à cidade o coronel Antônio Fernandes Vilela de Andrade, tijucano, maçom de alto de grau, pai do nosso querido estradeiro Fernando Vilela, com jornais noticiando que o governo provisório não pretendia mexer nas corporações administrativas. Tudo que o Machado fez, desfez-se. Só elegeram uma Junta Governativa Provisória, no dia 20. Em São José do Tijuco, importante núcleo republicano, a notícia chega a 23. Cautelosamente aguardaram confirmações que chegam a 27. O povo se reúne e vai à casa do pároco Angelo Tardio pedir-lhe um “Te Deum”. Depois do “Te Deum”, o povo percorre as ruas aos vivas e vão às casas dos líderes republicanos onde há longo falatório, foguetório e tome Marselhesa.
Depois, baile na casa de Manoel Vilela de Andrade. No Prata, a Câmara se reúne no dia 26 de dezembro com número insuficiente e ilegal para a reunião. Mesmo assim, o presidente Honório José de Salles coloca a palavra livre e, depois, os cidadãos e os vereadores presentes assinam uma moção de apoio ao Governo Provisório. São 26 assinaturas apenas. Em Frutal, onde prevalece o pensamento monarquista, a Câmara se reúne e simplesmente reconhece o Governo Provisório. Em Dores de Santa Juliana, ao saber da notícia, a primeiro de dezembro, povo e banda vão para a porta dos Correios aguardar a confirmação que chega e põe os manifestantes eufóricos. Saem pelas ruas aos vivas e ao som da Marselhesa pelo Banda local. Muitas residências oferecem cervejas e vinhos ao povo.
Em São Pedro de Uberabinha não aconteceu nada, apenas o jornal Gazeta de Uberaba publica uma nota de seu correspondente nesta cidade: “Achamo-nos atualmente na melhor quadra de tranquilidade. A sociedade uberabinhense, desprezando as lutas inglórias e improfícuas que se davam no tempo do regime monárquico, acompanha o grande movimento popular de 15 de novembro, mostrando-se possuída de prazer, que é natural a todo brasileiro que estremece a sua generosa pátria… etc…”
Fonte: jornais da época. (Texto publicado no jornal “Correio de Uberlândia”).
*Jornalista e escritor