Eliana França Leme*

Francamente, é com sentimento de frustração e desânimo que se pode constatar que o povo brasileiro de maneira geral prefere, tanto à esquerda como à direita, soluções autoritárias para solucionar problemas nacionais. Alguns podem dizer que isto se dá pelo alto índice de violência que nos torna a todos, vítimas potenciais, fato gerador de um medo aterrorizante. Outros afirmam que os políticos não prestam, então é melhor acabar com eles fechando o Congresso. Outros acrescentam, com razão, que a Justiça não funciona e não prende os culpados ou julga mal e porcamente. Sem contar o abuso dos tais movimentos sociais que atuam fora da legalidade sem que respondam por seus atos. Com tudo isso, acossados pelo medo e pela insegurança e pela justificada revolta, a população em geral deseja uma solução mais rápida e indolor, ora elegendo um salvador da pátria do tipo autoritário, ora desejando a volta dos militares ao poder e parte dela, a volta da esquerda, igualmente autoritária em sua base ideológica.
E assim vem a constatação de como ainda somos tomados por uma mentalidade terceiro-mundista em que este mesmo povo que deseja transformações se nega a assumir a responsabilidade por elas através da luta democrática na esfera do exercício da cidadania para que ocorram e não entregando os destinos do país, como querem muitos no mais puro infantilismo, a um imago paterno que venha resolver tudo por nós através da tutela do autoritarismo. Então é aí que mora o perigo, pois tanto mais uma aventura com um salvador da Pátria como a volta ao regime militar, nos levariam a um retrocesso inimaginável, num contexto hoje completamente diferente do que foi nos idos de 64. Em meio a toda esta confusão de sentimentos, ninguém se dá conta de que a crise que hoje enfrentamos nada mais é, do que uma herança do período autoritário, que criou o espaço para uma esquerda inconsequente, corrupta e nada democrática viesse a se instalar no poder por 14 anos. Se levarmos ao pé da letra veremos que os efeitos secundários da ditadura militar terminou só quando Dilma foi apeada do poder pela vontade popular, pois foi o final de uma era (de 64 a 2016) de triste memória: a do regime militar versus a esquerda que se proliferou alimentada por um fermento que se instalou em todos os espaços de formação de opinião, como universidades, escolas públicas, Igreja, associações e sindicatos, mídia etc…
Está na hora de mudarmos essa dicotomia. Não existe a solução autoritária seja à esquerda ou à direita, porque ela não é solução, é uma medida que visa reprimir o que assusta e incomoda. O que existe é o exercício da cidadania através do sistema democrático, a única forma de aprendermos a lutar pela ordem e pelo progresso, dentro da legalidade. Ou aprendemos isso ou estaremos condenados ao eterno subdesenvolvimento político, social e humano. Vamos pensar e agir como uma nação adulta e só então nos daremos conta de que somos capazes de corrigir todos os problemas que ora enfrentamos, com perseverança, com trabalho duro, com fé e esperança. Afinal, não é o crescimento do país em todos os sentidos o que mais almejamos?

*Psicóloga
Eliana França Leme – efleme@gmail.com