Cesar Vanucci *

“Governabilidade é o nome que se dá à compra de
apoio parlamentar para aprovar a agenda de um governo.”
(Jornalista Nirlando Beirão, numa definição
bem humorada sobre o momento político)

“A Lava Jato é imparável.” Foi o que asseverou a presidente do Supremo Tribunal Federal, Carmem Lúcia, durante o fórum “Mitos e fatos – Justiça brasileira”, realizado em São Paulo. Mesmo levando em conta a credibilidade e o respeito que a Ministra desfruta perante a opinião pública, por ser exatamente quem é, não há como resistir à tentação de fazer uma pergunta, depois de ouvir sua declaração. A indagação irrompe naturalmente do aturdimento causado pelas escancaradas articulações (noturnas e diurnas) procedidas com o fito de desativar saneadora operação, envolvendo cidadãos graduados, até nos trasanteontens do tempo, considerados acima de qualquer suspeita: – A senhora jura, Ministra?

Com toda aquela panca estilosa, lembrando empertigado mordomo britânico (personagem estandardizado em filmes), com que se apresenta diante das câmeras para pronunciamentos, o presidente Michel Temer garantiu, em exposição feita para plateia de banqueiros, que “o governo fez em 17 meses o que não foi feito em 20 anos.” Se vivo estivesse, o irreverente Stanislaw Ponte Preta certeiramente não titubearia, fração de segundo sequer, em incluir a jactância presidencial no famoso “Febeapa” (Festival de Besteiras que Assola o País).

As gafes geográficas cometidas no exercício de mandatos presidenciais constituem iguarias saboreadas pelo jornalismo. Isso vale tanto para detentores do poder estrangeiros, quanto para dirigentes tupiniquins. Quando visitou o Brasil, Ronald Reagan registrou, na descida do avião, o imensurável prazer que dele se apoderou ao pisar pela primeira vez o solo da Bolívia. O despropósito desovado levou criativa agência de publicidade, ato incontinente, a “homenageá-lo” com calorosa mensagem de boas vindas ao “Primeiro Ministro do Canadá”. Donald Trump é outro que vive aprontando confusões indicativas de seu desconhecimento da geografia, pra não dizer naturalmente de sua enciclopédica ignorância a respeito de tudo. Já aqui no Brasil o noticiário se divertiu à pamparra com as constantes “claudicadas” de Lula e Dilma. A vez agora é de Temer. Aqui estão situações, todas recentes, protagonizadas pelo dito cujo. Ao brindar, num ágape no Itamaraty, o chefe de estado paraguaio, Horácio Cartes, nosso dirigente supremo referiu-se a Portugal ao designar o país do visitante. Na Noruega, Temer anotou satisfação em estar na Suécia. Na Rússia, chamou o país de “República Socialista Federativa Soviética”, denominação abolida desde a glasnost e a perestroika em 1991. Repetiu a dose, ao comentar encontros mantidos com empresários russos, rotulados em sua fala como “empresários soviéticos”.

O talentoso jornalista mineiro Nirlando Beirão, herdeiro do nome de seu ilustre pai, empresário que marcou época como dirigente classista, define de forma bem humorada o que vem a ser “governabilidade” no conceito de manjados representantes da fauna politiqueira: “É o nome que se dá à compra de apoio parlamentar para aprovar agenda de governo. Claro que, quando o fazemos, preferimos usar um eufemismo. Dizemos: articular coligações em torno de um projeto patriótico. Você conseguiu? Parabéns, você é um governante de aguda sensibilidade, negociador de fino trato. Seu adversário fez o mesmo? Denuncie a falta de escrúpulos, a atroz barganha de princípios por conveniências, da honradez pela ambição. Já se o seu adversário de recusou a entrar no mercado de congressistas de aluguel, acuse-o de ser politicamente incompetente, incapaz de assegurar a governabilidade.”

Participando de um evento em São Paulo, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da operação Lava Jato, afirmou: “Tenho para mim que encontros fora da agenda não são ideais para nenhuma situação de um funcionário público. Nós mesmos, no dia da votação do impeachment (Dilma Rousseff), fomos convidados a comparecer ao Palácio do Jaburu à noite e nos recusamos.” Não há como deixar de associar tão sensata observação às notícias concernentes a visitas não devidamente agendadas, ao Jaburu, nas caladas da noite, por agentes públicos influentes, como nos casos do Ministro Gilmar Mendes, do Supremo, e da futura Procuradora Geral, Raquel Dodge.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)