Ivan Santos*

A tão comentada e esperada reforma política no Brasil não passou de sonho de noite de verão que acabou na véspera da primavera quando os deputados, representantes do povo, interessados prioritariamente na própria reeleição, decidiram deixar tudo como estava. Apenas houve um ensaio de mudança, mas no futuro. As coligações de partidos grandes, médios, pequenos e nanicas, poderão ser experimentadas nas eleições para vereadores em 2020. Será apenas uma experiência. Se facilitar a reeleição será ampliada para as “renovações” nos Estados e na União. Se houver alguma dificuldad3e a transpor, a iniciativa será simplesmente revogada pelo Parlamento. A renovação associada à uma pseudoreforma está na ordem do dia e começa pela mudança do nome da sigla partidária. Na essência, as principais legendas brasileiras continuarão a ser comandadas por uma gerontocracia (governo de velhos com gestão administrativa executada por anciões com ideias fossilizadas). A primeira mudança foi feita pela beata Marina Silva com a sua Rede. A Rede parece ser um ajuntamento de ecologistas para pentear macacos nas selvas amazônicas, e não um partido político. Primeiro, a ideia de renovação chegou ao velho PTN – Partido Trabalhista Nacional, fundado em 1945 e refundado em 1995. Na refundação assumiu o comando do PTN o então deputado José Masci Abreu. De lá até hoje apenas membros da família Abreu comandaram o PTN como uma poderosa ditadura familiar. Neste ano o PTN, cujo principal feito na política foi eleger o presidente Jânio quadros, decidiu se renovar e buscou inspiração no Partido esquerdista espanhol, Podermos. No Brasil o Podermos, hoje é o antigo PTN que mudou de nome: Agora é Podemos, mas continua a ser comandado como dantes por uma representante da família Abreu: a deputada federal Renata Abreu. Não é preciso dizer que a renovação com nova denominação e novas declarações de intenções foi somente pra índio ver e aplaudir. A ideia de renovação partidária está na ordem do dia. O DEM, Partidos dos Democratas, nasceu como Arena, depois mudou o nome para PDS – Partido Democrático Social – e assim serviu à ditadura militar. Foi por arte do PDS que nasceu no Brasil a “ditadura democrática”. Com o fim da ditadura, o PDS mudou de nome para se adaptar aos novos tempo e passou a ser PFL – Partido da Frente Liberal -, nada mais do que uma frente de partidos com interesses afins. Quando o PFL percebeu que não tinha “cheiro de povo”, mais uma vez mudou de nome e passou a der Democratas e, simplesmente, conhecido como DEM. A antiga Arena dos Militares pretende agora, mais uma vez, mudar de nome para atrair os jovens. Com esta intenção o DEM deverá passar a denominar MOVE. Para mover o que ninguém pode imaginar. O MOVE deverá ser comandado pelos mesmos gestores do DEM. Na prática, nada vai mudar. Outra “mudança” expressiva deverá acontecer na primeira semana de outubro próximo: o PMDB, partido do poder, também vai mudar o próprio nome. Com saudade da ditadura militar de 1964 quando foi criado, o PMDB deverá adotar o antigo nome: MDB, que foi um movimento permitido pelos militares para mostrar ao mundo que a ditadura brasileira era democrática porque permitia o bipartidarismo em vez de um partido único. No partido do contraponto, os parlamentares que criticaram a ditadura perderam o mandato por decisões baseadas num Ato Institucional que controlada até a Constituição. Hoje no Brasil vemos muitos políticos com saudades dos anos de chumbo da ditadura militar. Saravá. Mil vezes Saravá.

*Jornalista