As relações pessoais andam cada vez mais complicadas, distantes e superficiais. Realmente não sei se isso é fruto de uma vida cada vez mais ensimesmada ou se a capacidade de procurar ouvir, entender, preocupar-se de verdade com o outro está simplesmente embotando dada a quantidade de estímulos e estilos da vida moderna. A arte de ouvir anda esquecida. E olha que este distanciamento não se restringe apenas às relações profissionais ou de amizade, chega à galope também às famílias.
Caso contado por amiga e homônima daquela que a Virgílio conduziu por tortuosos e depois suaves caminhos no relato de Dante em sua Divina Comédia, por tutatis, esse grande e primoroso Aligehri da mágica Florença dos Médicis, Michelangelo e Maquiavel. Devaneio interrompido.
O caso com certeza nos dá muito o que pensar. A ele.
Contam que um menino ao chegar em casa da escola, encontra o pai frente a televisão e apressado o aborda:
– Pai o que que é sexo?
O pai demora a tirar os olhos da tela hipnotizadora, respira impaciente e passa a dar longa e confusa explicação sobre relacionamento homem e mulher, devaneia pela teoria da evolução, cita Darwin, mutações e combinações genéticas, migrações e isolamentos. Engasga ao tentar a posição da igreja sobre o assunto, mas acredita que não pode deixar de mencionar o criacionismo, dá pois versão própria do Gênesis, nem se lembra quando leu pela última vez o primeiro livro do Velho Testamento: “No princípio, Deus criou o céu e a terra. Ora, a terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, um vento de Deus pairava sobre as águas” – relembrou nostálgico, distanciando-se momentaneamente de seu discurso ” orientador”.
Claro, mudando tom e postura fala de doenças sexualmente transmissíveis, de AIDS e de métodos de prevenção, da importância do uso da camisinha – sexo seguro ora pois. Exaustivas explicações depois, encara finalmente o filho, como a saber se estaria satisfeito. O menino que se manteve calado todo esse tempo num misto de espanto e tédio, retruca:
– Está certo pai, muito legal isso tudo, mas só não entendi uma coisa. A professora passou um questionário para a classe responder e entregar amanhã, e aqui onde está escrito SEXO marco o quadradinho do M ou do F ?
Veterinário e escritor
Esta crônica nos mostra bem a capacidade que temos de complicar tudo, partir logo para a falta de simplicidade, quando podemos tornar tudo mais claro e mais acessível para a s crianças. Lembra-me o caso de uma colega de trabalho. Quando a neta dela, bem pequena ainda perguntou: “Mamãe, o que é tesão?” – A colega, pega de surpresa, sem saber direito o que responder, falou num ímpeto: ” Tesão é um T grande!” Aí já é simplificar demais… William, obrigada pela divertida crônica…
Cara Marília,
Já lhe disse e repito, você é uma pessoa muito generosa. O aprendiz aqui lhe agradece.