“… Imenso território, patrimônio da humanidade,
não patrimônio dos países que dizem lhes pertencer.”
(Trecho de proclamação do Conselho Mundial das Igrejas Cristãs,
conforme denúncia do jornalista Carlos Chagas, recentemente falecido)
Como anotei no comentário passado, o emprego da repetição em matéria de informações e revelações ajuda a compor uma retórica mais convincente. Compenetrado disso, impelido por sentimentos afinados com minha crença cívica, sinto-me inteiramente à vontade para retomar, neste acolhedor espaço, o tema da conspiração internacional focada na abominável ideia da internacionalização da Amazônia. As evidências clamorosas de que existe uma orquestração sinistra armada lá fora, à volta da candente questão, não ficam adstritas ao fato, aqui registrado, de que livros didáticos adotados em escolas estadunidenses apontam a Amazônia como um protetorado internacional, e não como um dadivoso e riquíssimo pedaço de chão pertencente a este país soberano, de dimensão continental, chamado Brasil.
Tempos atrás, o jornalista Carlos Chagas, de saudosa lembrança (falecido no último dia 26 de abril), denunciou, com compreensível indignação, o posicionamento assumido pelo poderoso Conselho Mundial das Igrejas Cristãs, recomendando, com descabida insolência, “uma ação evangélica” para “delimitar as nações indígenas, sempre pedindo três ou quatro vezes mais”. O mesmo organismo, no alerta do jornalista, ousou ir mais longe ainda, em seu “sagrado dever missionário”, quando “aconselhou” sejam esgotados “todos os recursos que, devida ou indevidamente, possam redundar na preservação desse imenso território, patrimônio da humanidade, não patrimônio dos países que pretensamente dizem lhes pertencer”. Manjaram só o tamanho da impertinência? Dá pra imaginar o estrondo de pororoca amazonense que uma declaração desse teor não desencadearia, caso a pia recomendação estivesse sendo direcionada às reservas florestais dos Estados Unidos, do Canadá, da Rússia ou de algum país europeu?
Agreguemos, agora, aos fatos narrados um relato, feito anos atrás, por um ex-ministro da Marinha brasileira, Maximiano da Fonseca, um dos numerosos oficiais de alta patente engajados em campanhas de esclarecimento da opinião pública sobre a cobiça estrangeira com relação a Amazônia. Segundo ele, em escolas norte-americanas e de outros países, vem sendo encucada na cabeça dos alunos a ideia de que, para preservar o “pulmão do mundo”, uma intervenção armada se faz imperiosa. De outra parte, respeitáveis figuras, militares e civis, responsáveis por providenciais alertas à nação sobre o que rola em plagas estrangeiras a propósito do assunto, também denunciaram que super-heróis das historietas em quadrinhos, distribuídas aí fora, são volta e meia “concitados” a aplicarem exemplar punição em “cruéis vilões responsáveis pela destruição da Amazônia”. Os vilões, visto está, pela ótica destrambelhada, conscientemente perversa, dos autores desses gibis, somos nós outros, os primitivos e despreparados brasileiros descritos nas cartilhas escolares de encomenda consultadas por alunos estrangeiros.
O distinto leitor, após tomar conhecimento da indecorosa manifestação atribuída ao Conselho Mundial de Igrejas Cristãs e dos outros disparates acima revelados, poderá incorrer na equivocada suposição de serem esses registros únicos, isolados, da ameaça alienígena contundente, tão bem concatenada, aos nossos valores cívicos e nossa soberania. Ledo engano! As figuras e organizações de realce no palco mundial que fazem coro com o ponto de vista do pessoal já citado são bem numerosas. Tanto quanto “eles”, muitos e muitos outros gringos arrogantes, ocupando posições influentes, consideram a posse da Amazônia pelo Brasil “meramente circunstancial”.
Falaremos disso na sequência.
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)