Ivan Santos*

A novela conhecida como “Reforma Política” encerrou ontem, na Câmara Federal, mais um capítulo melancólico: depois de mais de 10 horas de uma sessão nervosa, barulhenta, marcada por desentendimentos generalizados, os deputados representantes do povo brasileiro no Congresso adiaram mais uma votação de mudanças na legislação eleitoral e partidária nacional. Nenhuma surpresa para quem acompanha a novela há mais de 20 anos. A cada eleição nacional o assunto volta à ordem do dia na Câmara e no Senado. O resultado tem sido criar mais facilidade para a reeleição de quem tem mandato. A pretendida reforma neste ano tem sido uma repetição de temas improvisados, fatiamento de intenções, marchas e contramarchas sem consenso ou entendimento. Todos os detentores de mandatos legislativos temem mudanças e desejam financiar partidos e campanhas eleitorais com dinheiro do Tesouro da República. Desta fez a principal intenção continua a ser criar um Fundo com dinheiro público com R$ 3,6 bilhões para financiar as próximas eleições. Diante das reações negativas na sociedade, os senhores e senhoras representantes do povo no Parlamento recuaram, mas ainda não desistiram de criar o Fundo. Ontem, o tema apareceu nas intenções de alguns líderes. A sessão acabou no começo da já de madrugada nada decidir. Na semana que vem o tema da Reforma Política deverá voltar à pauta das deliberações na Câmara. Não há mais tempo para aprovar reforma legal para as próximas eleições. Se alguma resolução na Câmara for aprovada por 308 votos em duas sessões, ainda terá que ser apreciada no Senado e votada também em duas sessões com, pelo menos votos de 3/5 dos senadores e isto até a primeira semana de outubro próximo. Não hoje disposição majoritária para aprovar reforma política nas duas Casas do Congresso nem tempo para isto. Então reafirmamos sem medo de errar: não haverá reforma política, a não ser a aplicação de alguns remendos em buracos que representem empecilhos que possam atrapalhar a reeleição de quem já tem mandato para representar eleitores que ainda esperam por seriedade no processo político-eleitoral.

* Jornalista