José Carlos Nunes Barreto*

“Eu nasci há dez mil anos atrás/E não há nada neste mundo/que eu não saiba demais…” (Cancioneiro popular – Raul Seixas)

A longevidade é uma benção e um indicador de qualidade de vida. A sabedoria e o descortino normalmente descem sobre as cães dos anciãos , como orvalho nas manhãs de inverno. Os patriarcas judeus, há milênios, lembram seus descendentes sobre o único mandamento bíblico com promessa: “Honra o teu pai e a tua mãe, para que se te prolonguem os seus dias na Terra ,que o Senhor, teu Deus te dá”. Apesar disso, a imagem de um velho é estigmatizada, pois ele é visto como inútil, dependente, fraco,fracassado, um aposentado enfim.

A mídia hodierna vende bilhares de dólares a partir do marketing da juventude. É esta uma questão ontológica, política, sociológica e preocupante, em um mundo onde as pessoas vivem cada vez mais. Em artigo publicado em março de 2004 na revista “Haward Business Review”, Dychtward,K. et al, iluminam o assunto no texto:”É hora de aposentar a aposentadoria”. Nele afirmam que o empresariado americano esteve tão ocupado em demitir para reduzir custos , que negligenciou uma grande ameaça que paira sobre sua competitividade: a severa escassez de trabalhadores qualificados.
A população de “Baby Boomers”( geração nascida após a 2a Guerra Mundial e que realizou várias revoluções sociológicas, entreas quais ” O amor livre”) está envelhecendo e causará uma evasão de talentos, conectividade e capital intelectual nunca vistos ao se aposentar nesta década e na vindoura.

Até 2020 , 80% do força de trabalho nascida nos EUA e em grande parte da Europa Ocidental,estará na faixa acima dos 50 anos. Quando estes trabalhadores maduros começarem a se aposentar, não haverá ingresso suficiente de jovens no mercado para compensar esse êxodo- estima-se uma déficit de 10 milhões de trabalhadores qualificados nestes países, segundo os autores, e em alguns países ele é mais crítico e já tem caráter crônico.

Há um drama:Os “Baby Boomers”sentem pouca lealdade em relação às empresas.”São indivíduos no gargalo, competindo com muitos outros por pouquíssimos postos de liderança- estão desconfiados,receosos e defensivos, pois sabem que são ” velhos demais” para achar trabalho facilmente em outro lugar e serão dispensados antes da idade ‘oficial’ de aposentadoria.Lutam para seguir atualizados e sentem esgotamento sobretudo psíquico, depois de mais de 30 anos trabalhando”

Concluindo : uma nova e avassaladora emigração de cérebros do Brasil para EUA MCE e JP, está se desenhando com a atual e persistente crise econômica, social e política brasileira, e entre os que deixam esse Pais, a Nação e seu torrão natal , estão os novos velhos , com bagagem para produzir por pelo menos mais 10 anos, correndo de uma aposentadoria precoce ( e mal paga- se for paga), que o prive de compartilhar sua sabedoria e o capital intelectual acumulado heroicamente .
Quem está disposto a ouvir e aprender?

José Carlos Nunes Barreto
Professor Doutor e Presidente da Academia de Letras de Udia (ALU)
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