Antônio Pereira da Silva*

Nos seus 80 anos de informações, o “Correio” viveu histórias curiosas, com seu pessoal, jornalistas ou não, que marcaram sua passagem pelas oficinas e redação. Quando o “Correio de Uberlândia” começou a circular, no dia 7 de fevereiro de 1938, a cidade já tinha lido muitos jornais: o primeiro, “A Reforma”, surgiu há mais de 100 anos. No dia 17 de janeiro de l897, João Luiz da Silva colocou o seu primeiro número na rua. Em seguida, surgiu “A Gazeta de Uberabinha”, depois, o “Cidade de Uberabinha”, “A Semana”, “Nova Era”, “O Progresso”, “A Notícia” “O Brazil”, “O Paranayba”, “Diário de Uberabinha” e outros, outros. Merecem destaque “A Tribuna”, do Agenor Paes, “O Repórter”, do João de Oliveira (fundado pelo Arthur Barros), “O Triângulo” e o “Correio de Uberlândia”. Jornais de vida longa que fixaram os fatos mais importantes da história uberlandense.
O “Correio de Uberlândia” foi fundado por um fazendeiro de Ribeirão Preto, o Capitão José Osório Junqueira, que tinha a mania de jornais tendo criado outros em outras cidades. Quase não vinha aqui. Quem tomava conta da empresa era o seu irmão J. Osório Junqueira que era o Diretor Responsável. O Diretor Comercial era o seu filho Luiz Nelson Junqueira e o Redator Chefe era Abelardo Teixeira. Suas oficinas e redação ficavam na praça da Matriz (hoje, Cícero Macedo), nº 90. O telefone, ainda do tempo da Empresa Teixeirinha, era nº 195. Existem informações de que o Capitão Junqueira teria adquirido uma tipografia local onde instalou o seu jornal. Outros dizem que os primeiros jornais foram feitos em Araguari, nas oficinas de Pedro Vendeth. Há ainda quem diga que ele adquiriu as instalações de um jornal em Ribeirão Preto e as transferiu para cá.
Na década de 1941, o “Correio de Uberlândia” mudou de dono e tornou-se udenista, enquanto “O Triângulo” só passou a defender as hostes pessedistas alguns anos mais tarde.
Fazer a expedição de jornais, nos velhos tempos, não era brincadeira. Havia uma máquina acionada com o pé que ia marcando nome e endereço do assinante na testada de cada jornal. Um por um. Eram feitas umas linhas de chumbo com os dados necessários e fixadas em longas caixas de madeira chamadas “granéis”. Eram pesadíssimas essas caixas. Um dos expedidores do “Correio de Uberlândia” foi o futuro homem de televisão Gilberto Garcia, pai das atrizes Rosana e Isabela Garcia. Quando o jornal acabava de ser impresso, iniciava-se o seu trabalho solitário, passando jornal por jornal na máquina. A cada pulo do granel, uma pisada forte no pedal imprimindo os dados do assinante.
Nesse tempo, a cidade esbanjava talentos, ainda que mal compreendidos. Era 1957. O cantor Moacir Franco, que já fora entregador do “Correio de Uberlândia”, começava sua carreira num programa na Rádio Difusora que dividia com o humorista Cleyton Silva (de “A Praça é Nossa”). Era no sábado. Gilberto Garcia não faltava. Nesse dia, ele carimbava os jornais acompanhando o deslizar dos minutos. Quando se aproximava a hora do programa (de auditório!), ele largava tudo. Os jornais que ainda não tinham sido endereçados ele jogava em cima do forro. Havia queixas de assinantes que não recebiam o seu exemplar no sábado, mas fazer o quê, o Gilberto tinha endereçado tudo e entregue nos correios… pelo menos era o que ele dizia. E vai que a casa era antiga e o peso dos jornais, a cada sábado, aumentava, um dia o forro não resistiu: desabou e espalhou jornais velhos por toda parte. O diretor do jornal, que era o político Valdir Melgaço Barbosa, entendeu por que tanta gente reclamava a falta do jornal no sábado. Não teve dúvidas, chamou o Gilberto à sua sala, passou-lhe um sabão e dispensou-o…
(Fontes: Alberto de Oliveira, Jerônimo Arantes, Luiz Antônio Junqueira).

*Jornalista e escritor