Shyrley Pimenta*

É bem verdade: entre um papo furado, que pouco ou quase nada acrescenta, prefiro a companhia de um bom livro. Assim, caiu-me às mãos o livro de contos “Pente de Vênus – E novas histórias do amor assombrado” (Editora Record, 2000), publicado originalmente em 1995, pela Editora Sulina, de Porto Alegre. O livro foi finalista do Prêmio Jabuti.
A autora é Heloisa Seixas que nasceu (1952) e mora no Rio de Janeiro. Além de escritora, Heloisa Seixas é jornalista e tradutora. Trabalhou no jornal “O Globo” e foi assessora de imprensa da representação da ONU (Organização das Nações Unidas) no Rio de Janeiro. Versátil, além de textos jornalísticos, Seixas já produziu literatura infanto-juvenil, contos, crônicas, romances e peças de teatro.
“Pente de Vênus” foi seu livro de estreia, mas o convívio com as letras é de longa data. Durante sete anos, Heloisa Seixas escreveu no Jornal do Brasil a coluna “Contos Mínimos”, narrativas que são verdadeiras pérolas de concisão, beleza e exímio manejo da língua.
Um de seus romances, “A Porta” (Record, 1998), uma narrativa de amor, morte e paixão, também foi finalista do Prêmio Jabuti. O também romance “Diário de Perséfone” aborda a temática da solidão, tão em voga na contemporaneidade e “Através do Vidro” (Record, 2001) fala da questão do desejo, esse impulso humano permanente e angustiante na direção do inalcançável. Os textos de Heloisa Seixas giram em torno da problemática existencial, das grandes questões que inquietam os homens e as mulheres de todos os tempos: o amor, a loucura, a doença, a finitude.
No campo da não ficção, além dos textos jornalísticos, Seixas lançou, pela Objetiva, em 2007, “O Lugar Escuro”, texto de pungente beleza em que narra a convivência com a mãe, acometida pela doença de Alzheimer. E para professores e pais, para todos aqueles que compreendem a necessidade de iniciar as crianças e jovens no hábito e no prazer da leitura, Heloisa Seixas publicou ainda “Uma ilha chamada livro”, premiado pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 2010. O livro é uma seleção de “Contos Mínimos”, todos eles versando sobre a insubstituível e urgentíssima arte de ler, escrever e contar histórias.
Dona de um estilo claro, bonito, bem costurado, os textos de Heloisa Seixas convidam à leitura. O leitor se sente fisgado logo à primeira linha, magnetizado pelo enredo, pelas construções de linguagem, ansioso pelo desfecho (muitas vezes inusitado), mas relutante em chegar ao epílogo. Elogiada pela crítica, três vezes finalista do Prêmio Jabuti, o estilo de Heloisa Seixas mescla mistério, sonho, delírio, enfim, todos os ingredientes que compõem a dramática história humana.
Na obra de Seixas, o real e o imaginário se confundem. Daí o espelhamento do leitor, cuja vida “menor” encontra nos escritos de Seixas sua grandeza, pois todo e qualquer leitor se percebe, mais dia, menos dia, às voltas com circunstâncias que não consegue dominar: seja uma doença, seja a dor de uma perda, seja um amor impossível. O cronista Paulo Mendes Campos já afirmava: “…o que leva o escritor a encontrar a palavra tocante é o exercício das aflições”. E de aflições está cheio o coração humano: o do escritor e o do leitor. Fica o convite: prezado leitor, leia Heloisa Seixas. Vale a pena!

Psicóloga clínica e escritora – Uberlândia