Ivan Santos*

Depois do atrapalhado e surpreendente programa partidário apresentado há poucos dias na televisão e no qual criticou o governo do presidente Temer integrado por quatro ministros tucanos e classificou o atual modelo de governo do Brasil de “presidencialismo de cooptação”, o ninho dos tucanos de bela plumagem se acalmou e o Partido do Muro trocou a autocrítica por uma acomodação temporária. Embora afastado da direção do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves atuou nos bastidores para dirimir dúvidas e pacificar o Tucanato. Só não conseguiu acabar com a encenação cômica protagonizada pelo prefeito de São Paulo, João Dória, que desafia o criador dele, governador paulista Geraldo Alckmin e percorre o Brasil para se qualificar como candidato a presidente da República, mesmo cargo desejado por Alckmin. É uma legítima rebelião da criatura contra o criador, sem nenhum escrúpulo. Na semana passada, depois da articulação do tucano mineiro, o PSDB, que quis ser oposição ao Governo sem devolver quatro ministérios, fez uma reflexão estimulada por Aécio, reuniu 27 presidentes de diretórios estaduais em Brasília e depois de uma conversa afinada com o presidente interino do Partido, senador Tasso Jereissati que defende a devolução dos ministérios a Temer e saída do governo, resolveu manter-se na Base de Apoio ao Palácio do Planalto. Foi uma decisão para afinar a viola com Temer e transformar a união temporariamente em união estável. Os tucanos de bico comprido proclamaram à nação que suspenderam as divergências e continuarão e se unir em torno de um desejo comum: não perder as sinecuras que quatro ministérios oferecem. É bom lembrar que o tucano-mor, Fernando Henrique Cardoso disse que “nós apoiamos Michel Temer pelo interesse nacional na governabilidade e porque ele se comprometeu com reformas que são essenciais e às quais devemos dar apoio ainda que corrigindo um e outro ponto”. Lembremo-nos do comediante Chico Anísio que dizia por um de seus personagens que “palavras são palavras, nada mais que palavras”. Articulações políticas são recheadas de palavras, algumas solenes.

*Jornalista