O povão do Brasil não está a perceber, mas no compasso das horas e no meio de uma confusão que brotou e tornou-se conhecida graças às ações do Ministério Público e da Justiça contra a corrupção endêmica que se instalou no Brasil, alguns políticos preparam uma maracutaias intitulada Reforma Política para garantir longo mandato para os conhecidos como “representantes do povo”. A maracutaia cresceu como cogumelo no verão na Era Lulopetista, de 2003 a 2016. Hoje a maioria dos políticos com mandato e disposição para viver “sem medo de ser feliz” atua para criar instrumentos legais que os mantenham por toda a vida no poder. Com esta intenção, um grupo de audaciosos representantes do povo não aceita aprovar projetos necessários, mas impopulares, propostos pelo chefe do governo. A disposição da maioria é empurrar com a barriga para o futuro incerto e não sabido, todo tipo de projeto impopular como o da Reforma da Previdência e assim conquistar votos populares para reeleições. Com esta disposição a Reforma da Previdência, como quer o Governo, não será aprovada neste ano nem nos próximos. Está em marcha uma reforma política que garanta a reeleição de nobres deputados em um processo acelerado na Câmara Federal para ser aprovada neste mês ou, no mais tardar, em setembro para vigorar na eleição do ano que vem. Nesta semana a Comissão Especial que na Câmara prepara a Reforma Política aprovou a criação de um “Distritão”. Este é um sistema através do qual são eleitos para a Câmara os candidatos mais votados em cada Estado da Federação. O Estado será o Distrito Eleitoral. O projeto da Reforma inclui além do Distritão, a criação de um Fundo Público de R$ 3,5 bilhões para financiar campanhas eleitorais. Este sistema, transformado em voto distrital misto, permite que políticos com mandato sejam relacionados numa lista do Partido que será votada em bloco fechado e permitirá a eleição de políticos com mandato. Assim, não haverá renovação no Parlamento. É uma grande maracutaias que está a ser criada sem nenhum protesto do povão que não dá importância para reformas. No Distritão se beneficiarão os artistas populares como Tiririca, os deputados em exercício, os líderes religiosos de grandes igrejas salvacionistas e os dirigentes sindicais reconhecidos por fiéis ou “companheiros”. Os que entrarem na política para defender programas econômicos e ideias não terão chance de conquistar um mandato legislativo. Isto é um desserviço à democracia.
*Jornalista
“Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente, e pela mesma razão”.
José Maria de Eça de Queirós, (Póvoa de Varzim, Portugal, 25/11/1845 – Paris, França, 16/08/1900), um dos mais importantes escritores portugueses de todos os tempos, autor de “Os Maias” e “O crime do Padre Amaro”; este último é considerado o melhor romance realista português do século XIX.
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“Há um IDIOTA no Poder, mas os que o elegeram estão bem representados.”
Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, (Rio Grande/RS, 29/01/1895 – Rio de Janeiro/RJ, 27/11/1971), jornalista, escritor gaúcho e pioneiro no humorismo político brasileiro, conhecido por Apporelly e pelo falso título de nobreza de Barão de Itararé.
1)Fernando Fabrini, escritor, colunista e poeta=A ausência de terremotos em território nacional é um fenômeno que me persegue desde o grupo escolar. Foi a Ana Lúcia, aquela colega moreninha de rabo-de-cavalo, quem me iniciou, sem saber, nos mistérios profundos da Mãe Gaya. Nas comemorações de um Sete de Setembro, fechando com ufanismo precoce seu discurso no pátio, disse ela, sob os olhos marejados da professora: – O Brasil, nosso torrão, é abençoado por Deus porque não tem terremotos! Voltei exultante para casa. Como ainda não tinha me dado conta de fato tão auspicioso? Enquanto outros povos – gregos, italianos, hunos e visigodos, por exemplo – ficavam à mercê dos terríveis abalos, nós, crianças privilegiadas de Belo Horizonte/MG, Brasil, podíamos brincar sem medo, chutando bolas de meia sobre o solo seguro da rua do Ouro e arredores. De vez em quando, eu ainda pulava com força sobre o terreiro lá de casa para testar e apurava os ouvidos. Perfeito: nada se movia na sequência. Virei gente grande, continuo a me lembrar da Ana Lúcia e padeço com as notícias – reais – dos inúmeros terremotos recentes na China, Itália, Chile, por aí.
2)…Minha coleguinha estava certa, o que é terrível. A nação brasileira é dotada de uma solidez à prova dos piores abalos sísmicos. Mexam à vontade, experimentem derrubar o que está errado, sacudam os braços, gritem. Bobagem: nossas estruturas velhacas são assaz flexíveis. Passado o primeiro impacto, retirada a pressão e baixada a poeira, elas retornam rapidamente à posição inicial, como os modernos edifícios japoneses. Continuaremos incorrigíveis e superficiais nas mudanças, deitados eternamente nessa maldição musical que balança, balança, mas não cai? Nunca senti o chão deste país tremer de verdade sob meus pés (exceto de modo figurado, sobrevivendo a certos abalos que tiveram meu coração como epicentro. Mas isso não conta; é apenas íntimo e pessoal). Talvez por tudo isso, em noites de Lua cheia, deitado em minha rede sob a mangueira, sou tomado por um sono irresistível. E lá vem, de novo, o sonho recorrente do fantástico choque das placas tectônicas que se espremem logo aqui embaixo. É sempre igual o tal sonho, variando apenas na intensidade e no número de figurantes, em relação direta com o que comi no jantar.
3)…O enredo é mais ou menos assim: a noite segue morna e comum, quando o noticiário da TV mostra com exclusividade mais um escândalo-roubalheira-sacanagem de dimensões continentais. Nesse ponto, de repente, a coisa acontece. Revoltada com o descaso, enfarada com a safadeza reincidente, enjoada com o desrespeito, a terra brasileira manda dizer que não aguenta mais. Então, em nome dos indignados que suportam tudo calados, a nação retorce as entranhas e regurgita seu asco medonho. Do Oiapoque ao Chuí, tudo começa a sacudir. Afundam as cuias gêmeas do Congresso, sepultando engravatados sob montes de entulho. Caem as alegorias patrocinadas das escolas de samba e os medalhões de ouro dos bicheiros. Rolam traficantes e os policiais safados que os protegem. Com precisão cirúrgica, pedras voadoras despencam sobre as cabeças daqueles cruéis com animais, bem como nas dos pedófilos, nas dos marqueteiros e outros que se enriquecem na lama. Intelectuais simpatizantes do ditador venezuelano Nicolás Maduro são envoltos num redemoinho providencial e despejados – com fome – numa fila de pão quilométrica em Caracas.
4)…Motoristas bêbados que voam a mil por hora, matam, pagam fiança e saem tranquilamente pela porta da delegacia, também não escapam: são atropelados por imensas carretas Scania-Vabis. Desmancham-se gabinetes oficiais inúteis, esfarelando burocratas parasitas e suas bandejas de café. No Céu, raios espetaculares atingem jatinhos que transportam operadores e lobistas de uma obra monumental para outra. Bem-vindo, caos redentor! Assisto a tudo impassível, e com certo sentimento de satisfação inexplicável. É claro que, na condição de espectador, após o terremoto sobrevivo ao lado de pessoas queridas. Abraçamo-nos, de alma lavada, e dançamos, felizes, sobre as ruínas. Livres do passado, começamos a construir um Brasil novo, original, muito diferente daquele que tentam empurrar-nos goela abaixo com a ajuda de publicidade oficial enganadora, retórica furada e blá-blá-blá demagógico. Quem disse que eu não posso sonhar com um abalo sísmico dos bons? Afinal, do roteiro à direção, passando pelos efeitos especiais, o projeto é todo de minha autoria. E em minha catástrofe mando eu, ora.
Neste Governo Temer, sob os auspícios do compromisso de fazer o País superar a mais severa e aguda crise sociopolítica, econômica e moral de sua História, herança maldita do nefasto, corrupto e incompetente desgoverno lulopetista dos últimos 13,5 anos, não poderia haver melhor oportunidade para relembrar um dos célebres ensinamentos de Nicolau Maquiavel, historiador, poeta, diplomata e músico italiano, fundador do
pensamento e da Ciência Política moderna, autor de “O Príncipe”, de 1513:
“Nada é mais difícil de executar, mais duvidoso de ter êxito, ou mais perigoso de manejar do que dar início a uma nova ordem de coisas. Quem patrocina um programa reformista tem inimigos entre aqueles que lucram com a velha ordem, e poucos defensores que teriam vantagens na nova ordem. A resistência se torna mais forte em territórios contaminados pelas mazelas da velha política, entre as quais podemos apontar loteamento da burocracia estatal, descontrole de gastos, ausência de planejamento, improvisação, acomodação e incúria, fatores que descambam na perpetuação do status quo”.