Cesar Vanucci *

“O 7 de abril dá nome a logradouros numa penca de cidades.
Assinala a data da abdicação de Pedro I.”
(Domingos Justino Pinto, educador)

Tempos atrás, instigado pela simbologia numerológica derivada do fato de serem sete as maravilhas do mundo antigo, um punhado de leitores encaminhou a este desajeitado caçador de quimeras informações sobre o significado cabalístico do número sete. Deu cada coisa! Um nunca acabar de revelações intrigantes.

Lembrou-se, por exemplo, que sete são as cores do arco-íris. Sete os tons da escala musical. Sete as séries de pesos atômicos na tabela periódica dos elementos químicos. Sete os dias da semana. Sete as vértebras do esqueleto humano. Não foi esquecido, também, que somam sete os chamados pecados capitais e sete as virtudes teologais. E que o mundo foi estruturado em simbólicos sete dias, sendo que o sétimo dia ficou reservado ao divino repouso.

As menções de conteúdo místico mostraram-se copiosas. Algumas delas: são sete os planetas da astrologia esotérica. Em registros bíblicos, o sete é objeto de profusa citação. Exemplos: os sete espíritos aos pés do Senhor; os sete anos que Jacó teve que servir a Labão quando pediu Raquel em casamento; as sete frases proferidas por Jesus na cruz – três anotadas por João, 3 por Lucas e 1 por Mateus; a festa dos pães asmos (sem fermento), que se seguia, em priscas eras, à festa da Páscoa, onde se costumava recomendar aos fiéis que comessem do produto durante sete dias; a festa do Pentecostes: “Vós, pois, desde o dia depois do sábado, no qual oferecestes o molho das primícias, contareis sete semanas completas …” (Lev. 23:15). No Novo Testamento outras intrigantes revelações. A saber: no Apocalipse, o sete domina muitos textos: sete igrejas, sete espíritos, sete castiçais de ouro, sete estrelas, sete lâmpadas de fogo, sete trombetas, sete taças, sete olhos, sete anos, sete trovões, sete coroas, sete pragas, sete montes, sete reis. Segue por aí. No alfabeto hebraico, no alinhamento das interpretações cabalísticas, o sete corresponde à letra “zain”, que significa “O Imaculado”. O castiçal de sete braços ou candelabro (menorá em hebraico) é um dos mais respeitados símbolos do judaísmo. Apocalipse (5:6) ainda: “Tinha ele sete chifres e sete olhos, sete são os espíritos enviados por Deus por toda a Terra”. Mais registros bíblicos: “Então ele vai e toma consigo outros sete piores do que ele (…)” (Lc 11:26); “Não te fies nele, pois há sete abominações na alma dele” (Salomão-Prov. 26:25). Ou: “Castigar-vos-ei sete vezes pelos vossos pecados” (Levítico 26:24). Ou ainda: “Faze sete partes e também oito” (Eclesiastes 11:2). Noutro trecho do Evangelho, o faraó tem aquele sonho das sete vacas gordas e sete vacas magras. José decifra os sonhos premonitórios do faraó: eles falam de sete anos de bonança e de sete anos de carências.

Salientando que no jogo numerológico o sete indica clarividência e que para Pitágoras este é o número da perfeição, foi-me lembrado também que sete é o total dos Arcanjos, sete são os dons do Espírito Santo, sete são os chacras e sete as glândulas endócrinas. No registro histórico temos o sete de setembro, nossa data cívica magna. Já o sete de abril, que dá nome a uma penca de logradouros brasileiros, corresponde à data dos tempos do Império em que se deu a abdicação do trono por Pedro I em favor de Pedro II. Merece também anotação que o 7 de ouros e o 7 de paus, como sabido dos apreciadores de jogos de cartas, têm peso maior nas artimanhas do popular truco. O número, por outro lado está inapelavelmente associado, na crônica futebolística, àquele fatídico instante vivido no Mineirão em 2014.

O algarismo traz mais evocações. Da criança peralta diz-se que anda pintando o sete. Sete é conta de mentiroso. Na historinha que encantou gerações, Branca de Neve é acompanhada por sete anões. O instinto de sobrevivência do gato leva à ideia de que o animal possui sete vidas. Pessoas avarentas trancam pertences a sete chaves. Os que partem primeiro são sepultados debaixo de sete palmos de terra. Muitas as regiões de sete colinas. Caso de Roma. Uberaba, idem. E como é mesmo a denominação dada à celebração com a qual reverenciamos, na primeira semana da partida, os entes queridos que nos deixam? O escritor Júlio Sayão esclarece ser “o 7 um número sagrado em todas as filosofias e religiões, desde a mais remota antiguidade.”

Fechando o papo: você aí pode até franzir a testa em sinal de dúvida. Mas, em leal verdade, preciso dizer-lhe algo: o número de leitores que contribuíram para a feitura destas maldatilografadas foi precisamente 7.

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)