José Carlos Nunes Barreto*

“A qualidade nunca se obtém por acaso; ela é sempre o resultado do esforço inteligente”.
John Ruskin

Estou finalizando um curso de extensão, a ser lançado pela FGW em Araxá, que objetiva ensinar o uso de ferramentas da Qualidade, como modo de turbinar a produção de bens e serviços, principalmente para a pequena e média empresas, já que as grandes possuem departamentos que desenvolvem esta utilização, muito em voga no mercado, nas cadeias de valor em que estão inseridas. Procurarei aqui fazer um resumo de nossa grade temática e sua importância prática no entendimento das questões da qualidade.

Começaremos com o 5S ou os cinco sensos, como não poderia deixar de ser. Na jornada da qualidade este é o primeiro passo. É um fundamento- o baldrame sobre o qual construiremos nossa casa. O senso de utilização (Seiri) é o primeiro. Ao estabelecer uma comissão para implantação, a comunicação com todos os funcionários do setor deve ser estruturada, explicando o passo a passo desta ferramenta, que exige a participação de todos, pois é diferente do housekeeping ( que vem de cima para baixo e entregue pronto pela direção da organização).Uma grande mesa de descarte deve ser providenciada, para que, ao verificar a utilidade dos itens do processo produtivo, e ao ordenar o ambiente- segundo senso(Seiton) – muita coisa que sobrar, ou que já estava “a lateri” do processo, sem participar, nesta fase, é colocada sobre esta mesa, para que durante um tempo previamente combinado, os participantes possam reutilizá-las , ou caso contrário, ao fim do período, descartá-las.

O terceiro S é o sendo de limpeza (Seiso), e ao terminá-lo, estaremos implantando uma cultura crucial para a produção. Onde tudo fica ordenado e limpinho, até com novo lay out. Pois o quarto senso depende disso, e se chama Padronização ou Saúde(Seiketsu), que se estabelece após a sedimentação dos 3 primeiros nas mentes e corações dos funcionários. Exemplos não faltam nesta pandemia, dos benéficos efeitos da limpeza e sanitizações que salvam vidas, e seus protocolos sistemáticos, como lavar as mãos, higienizar superfícies e pertences com agua e sabão ou com álcool gel, portar máscaras trocadas por limpas a cada duas horas, de tal forma que explicam, como, ao manter a autodisciplina (Shitsuke) como quinto senso, evita-se o descuido, que pode levar a mais contaminações e mortes. Isto é 5S.

Todavia, não só por causa da pandemia que se deve manter o 5S, ele é fundamental nas BPF- boas práticas de Fabricação, pois sem elas, além de não se ter saúde no chão de fábrica/loja/laboratório/escola, o produto final, seja ele um bem ou serviço, estará contaminado e, disseminando contaminações cruzadas, o que é deletério à vida.

A Ferramenta Kaizen ou ciclo PDCA, vem à baila, então, como a ferramenta mestre de todas as normas de qualidade, meio ambiente e segurança e saúde ocupacional da ISO, e por ser um ciclo, estabelece melhorias contínuas ao girar: a partir do P- Planejamento; D- da execução do que planejou;C- para checar ou auditar ,se o executado está de acordo com o planejado e, por fim, do A da ação, para corrigir ou melhorar o que se executou.

Compartilho da mesma visão do SEBRAE, sobre a implantação da cultura da qualidade para pequenos negócios, que respondem pela esmagadora maioria dos empregos no País: São 4 grandes áreas grafadas em círculos, que se entrelaçam ao redor de um círculo central da Gestão da Qualidade- contendo os Princípios da organização: 1-Planejamento Estratégico, 2-O 5S, 3-Gestão da Qualidade- Pessoas, e 4- Gestão da Qualidade- Processos. Já abordamos acima, a importância das pessoas, dos processos e do 5S. Para falarmos dos princípios, vamos coloca-los, a seguir, na esteira da metodologia para execução do planejamento estratégico, não por ser menos importante que o mesmo, mas porque fica mais fácil ao alunado visualizá-los, e entendê-los neste contexto
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Pois bem, todas as vezes que presto consultoria para um pequeno ou médio empresário, no início dos trabalhos, uma questão é colocada: qual é o seu negócio, indago… Invariavelmente, ouço respostas que, de tão pobres, são limitantes, para as visões que as empresas possuem para chegar ao cumprimento de suas missões. Isto porque, muitos não explicitaram nem deixaram claro e escrito para toda organização , quais são seus princípios( valores, crenças, políticas), através dos quais os líderes e a empresa, vão enxergar a visão da corporação, para atingir seus objetivos estratégicos, e então construir estratégias competitivas, ao responder as perguntas do velho e bom 5W2H- (1W- What -O que vamos fazer;2W- who- quem vai fazer;3W-Quando;4W-Where- onde;5W-Why- porque;1H-How- como podemos fazer;2W-How much-quanto custa)

Ora, para se construir, estabelecer e em seguida, comunicar os princípios de uma organização, se faz necessário organizar um seminário de pelo menos oito horas, com o board da organização, que, consultado previamente, se apoiará nas entrevistas realizadas, e gravadas, com os fundadores da empresa, para extrair daí as crenças, valores e possíveis políticas da empresa, a serem discutidas e aprovadas durante o evento.

Os consultores, na verdade, são os grandes facilitadores para ajudar a direção da empresa a montar seu plano estratégico, que começa com a definição ( ou redefinição) de seu negócio, que muitas vezes é reestruturado, o que pode gerar outra missão, e, após a definição dos princípios( que são a “lente dos óculos” da organização)ao analisar o ambiente, ter-se-á outra visão, e portanto, outros objetivos estratégicos e via de consequência, outras estratégias competitivas.

Voltando aos círculos do SEBRAE, em torno dos princípios da empresa, agora entendemos a sua importância, e porque está no centro, com os demais orbitando ao seu redor ( Pessoas,processos e planejamento estratégico).

Estes são rudimentos essenciais(existem dezenas de outras ferramentas, que iremos mostrar em outros artigos) ao começo de toda empresa, e é capaz de evitar sua morte, seja em até um ano (40% delas), seja em até 5 anos(cerca de 70% delas),e mais que isso, tornar perene sua existência , evitando um verdadeiro tsunami social- econômico e político, onde centenas de milhares de organizações vão à falência, ano após ano, daí minha tese de que, políticas públicas se fazem necessárias para disseminar este conhecimento na ponta do mercado , onde estão os empreendedores,( 70% dos mesmos não procuram o SEBRAE) que perdem todas suas economias e das respectivas famílias, por absoluta falta de uso desta ferramenta de negócios.

*Pós doutor e Sócio da DEBATEF Consultoria