Rafael Moia Filho*

“A vida é muito maior que
a soma de seus momentos”.
Zygmunt Bauman

Ao ver ultrapassar os cem dias de quarentena impostas pelo isolamento social necessário para o achatamento da curva do novo coronavírus, percebemos que mudamos muitos dos nossos hábitos, alguns arraigados ao longo dos tempos.
Ao ficar em casa deixamos de nos preocupar tanto com nossas vestimentas, afinal de contas, estamos fechados dentro de casa e sem receber visitas. Logo sai de cena roupas finas, novas e voltam a lida camisetas surradas, moletons, bermudas e outras vestes sem tanta importância, mas que jamais sairiam conosco às ruas.
O carro nunca ficou tanto na garagem como nestes dias decorridos de isolamento social. Empoeirado, porém, sem consumo de combustível, óleo e com seus custos reduzidos. Ao receber o boleto de pagamento do Sem Parar, percebi que não havia cobranças de estacionamentos, passagens em praças de pedágios, apenas o valor da mensalidade.
O uso das plataformas digitais passou de item importante para essencial na sobrevivência diária dentro de casa. Afinal, com a internet e estes aparelhos (Smartphones, Tablets ou PC) acessamos quase tudo, dos pedidos de alimentos, compras de delivery de mercados, farmácias, quitandas, etc. O contato virtual, embora não substitua o abraço, nunca foi tão importante para que avós possam ver netos, que pais possam falar com filhos que moram distantes, amigos possam trocar ideias.
Máscaras e álcool gel são itens importantes dentro de casa, porém, fundamentais na sobrevivência fora delas, sem os quais sequer podemos sair às ruas, entrar no transporte público ou num supermercado.
A televisão nem sempre tão importante, passou a ser vital no auxílio a passagem destes dias diferentes em nossas vidas. Como a programação dos canais da televisão chamada de “aberta” são muito ruins e fracas, ganhou relevância a Netflix, Amazon Prime, com seus filmes, séries e documentários, o Youtube com suas lives e shows.
Os fanáticos por futebol sofrem por abstinência, entretanto, há 100 dias seus times não perdem um jogo sequer. Permanecem invictos, só que a gozação e as piadas entre amigos e cunhados, relativas aos seus clubes estão congeladas. Não se pode falar nada de esporte, pois eles estão longe de voltarem, assim como os grandes espetáculos, shows musicais, peças de teatro e cinema.
A leitura um pouco esquecida e até deixada de lado, voltou a ter a importância que sempre mereceu nestes dias de isolamento. Eu e minha filha já lemos sete livros neste período, parece pouco, mas se a média dos lares brasileiros fosse essa teríamos muito o que comemorar.
Em resumo, perdemos e ganhamos muito nesse período, boa parte pensa apenas na economia, outros apenas na saúde, mas, os prejuízos obtidos por força do isolamento estão sendo compensados por outros ganhos advindos de formas diferentes em nossas vidas.

* Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.