Rafael Moia Filho*

“Nunca se mente tanto como antes das eleições,
durante uma guerra e depois de uma caçada”
Otto Von Bismarck.

A divulgação do vídeo da reunião ministerial ocorrida em 22 de abril evidencia com clareza a intenção de interferência na Polícia Federal, algo que nem Michel Temer, um presidente corrupto com sete processos nas costas tentou durante seu curto mandato. A vontade do presidente de ter um aparato pessoal de informação para poder obstruir ou se antecipar as investigações que envolvem seus 19 familiares ficou clara no decorrer da reunião.

A sociedade pode ter acesso ao vídeo da reunião graças a liberação por decisão de Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal. Trazendo novas evidências conclusivas sobre o que já se suspeitava: o presidente Jair Bolsonaro mente.

Depois do vídeo, a versão presidencial de que queria interferir na sua segurança pessoal, e não na superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro, torna-se completamente inverossímil.

Como demonstrou reportagem da TV Globo, menos de um mês antes da reunião Bolsonaro havia promovido o responsável por sua segurança e o substituído pelo então número dois na função.

No vídeo, o presidente fala textualmente: “Já tentei trocar gente de segurança no Rio, oficialmente, e não consegui. E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda (…) porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele, troca o ministro. E ponto final. Não estamos para brincadeira”.

Tudo o que ocorreu depois da reunião se encaixa na narrativa do ex-juiz Sergio Moro. Não há dúvidas de que o presidente trata da PF, um órgão de Estado, quando promete ir até o fim para fazer valer a sua vontade antes que a sua família seja atingida. Querendo transformar desde antes das eleições a PF no quintal de sua moradia no Condomínio Vivendas da Barra.

No restante, a reunião entra para os anais da história como encontro do ministério entra para a história dos 130 anos da República no Brasil como um dos episódios mais execráveis do exercício do poder presidencial.

O linguajar chulo, deplorável, inconsistente com quem ocupa o maior cargo no país, deixa claro, nos rompantes autoritários e nas exibições de incapacidade gerencial diante de uma crise monstruosa, que Jair Bolsonaro rebaixa a presidência e humilha a quem representa, colocada pelos constituintes de 1988 no pináculo do edifício democrático. A democracia que o elegeu é a mesma que tem sido vilipendiada por seus atos e suas falas.

As ofensas desferidas a governadores e prefeitos. O perverso e criminoso discurso do ignóbil à frente da pasta da Educação pedindo cadeia para ministros do STF, que qualifica de vagabundos.

As palavras incoerentes e sem nexo da Ministra dos Direitos Humanos contra mandatários estaduais e municipais clamando por prisão, demonstra que estes não são ministros, mas se parecem com seguidores nefastos de uma seita.

Um elemento a mais aparece no vídeo. Bolsonaro afirma que tem acesso a um dispositivo de inteligência particular. Ora, nada no ordenamento constitucional, nem nos princípios que norteiam as sociedades democráticas, autoriza o chefe de Estado a dispor de um aparelho pessoal de bisbilhotagem.

Se estivéssemos vivendo num país sério com todas as Instituições democráticas funcionando com total independência a PGR Procuradoria Geral da República, deveria por obrigação aprofundar a investigação acerca da conduta de Bolsonaro que, além de cercar-se de assessores insanos, autoritários e incapazes, pode ter cometido crimes. Que a PGR se mostre à altura do cargo que ocupa.

Ressalve-se as ameaças infames feitas pelo general Augusto Heleno, do GSI, a respeito de uma eventual apreensão do celular presidencial poderia ter “consequências imprevisíveis”. Dados a baixeza e o desvario mostrados numa reunião formal, assusta de fato imaginar o que Bolsonaro diz em particular para seus seguidores (Ministros e assessores).

*Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.