Gustavo Hoffay*

Eu tenho a mais absoluta certeza que, nessas próximas eleições, a grande maioria dos candidatos a vereador e prefeito tentarão elevar à qualidade de cabo eleitoral, pela primeira vez, um “ser” invisível porem mais famoso que qualquer outro nessa mesma condição e em todo o mundo: o Corona Vírus. E como já está autorizado o lançamento de pré-candidatos espalhados pelas vinte e seis unidades da federação e que correrão atrás de nada menos que 153 milhões de eleitores, prevejo que ainda teremos de conviver por mais alguns meses com o assunto “Corona” ou “Covid 19”, quanto mais em um país onde os políticos (ou quem se passa por projeto de político) abusam daquilo a que dá-se o nome de “oportunismo”. Serviços de água e esgoto, segurança pública, urbanização, drogas e educação, por exemplo, deverão servir apenas de coadjuvantes nos discursos dos candidatos e onde a estrela maior será certamente o que já foi ou estará terminando de ser: o combate à pandemia gerada por uma particulazinha de tamanho insignificante mas de grande poder destruidor. E candidato que pegar na mão ou dar abraço em eleitores já poderá “tirar o seu cavalinho da chuva”: estará dando um péssimo exemplo no sentido de evitar a propagação da satânica doença e ver descer, ladeira abaixo, aquela sua pretensão política ; sequer a distribuição de “santinhos” escapará ilesa de ficar fora das próximas campanhas eleitorais e em virtude dos mesmos serem passados e repassados de mão em mão, sem critérios ou cuidados básicos de prevenção à propagação daquele vírus. Subir em palanques na companhia de uma legião de cabos eleitorais, nem pensar; aglomerações deverão continuar rigorosamente suspensas durante o período de campanha pré-eleitoral. Candidatos que imaginam realizar caminhadas e carreatas na busca de votos, deverão poupar o que seria pago em combustível e começar, desde já, a rascunhar e a decorar os seus discursos ou frases para serem usados nos programas eleitorais gratuitos de radio e TV e os quais, penso, pela primeira vez gozarão de alguma audiência junto aos eleitores. E preparemo-nos para receber chamadas telefônicas e e-mails com mensagens políticas que, na realidade, servem unicamente para desmerecer qualquer candidato e considerando que tal prática é uma explicita demonstração de total falta de respeito ao eleitor. Embora eu não seja um “marketeiro” político, penso que a melhor estratégia dos candidatos para a obtenção de credibilidade e voto nas próximas eleições será, não tenho dúvida, a propaganda boca a boca. O real conhecimento da maioria dos eleitores em relação aos candidatos de sua preferência, será um grande e pesado referencial; enfim, uma eleição que – talvez pela primeira vez – brindará aqueles que de fato gastarem solas de sapato e saliva enquanto debaixo de sol ou de chuva, como era feito antigamente e quando os candidatos tinham a coragem de olhar diretamente nos olhos de eleitores diversos, sem qualquer receio ou vergonha de apresentarem-se com tal. A quase cinqüenta anos exercendo o meu direito de voto, posso garantir que os próximos eleitos às câmaras legislativas de nada menos que 5.570 municípios brasileiros, do Oiapoque ao Chuí, poderão dizer-se objetos de escolha dos eleitores pelo que realmente já foram e continuam sendo em termos de caráter, responsabilidade, respeito e de valorosos serviços prestados às suas respectivas comunidades.

*Agente Social – Uberlândia-MG