Antônio Pereira da Silva*

Quando se terminou a construção da capela curada de N. S. do Carmo e São Sebastião, rodeada de casebrezinhos humildes com uma bica d’água puxada lá de perto do Carrefour, aí por 1853, o Arraial de São Pedro de Uberabinha, já tinha o seu primeiro farmacêutico prático que por aqui aportara por volta de 1850. Era o Miguel Jacintho de Mello que repartia seus dons curativos com os raizeiros e benzedores da região.
Não demorou muito para que batesse por aqui o primeiro farmacêutico licenciado, o músico e professor de primeiras letras, Antônio Maximiano Ferreira Pinto, que instalou a primeira banda de música do lugar. Eram todos membros da sua família, por isso chamava-se a “Banda dos Pintos”.
Maximiano era conhecido por “Pintão” e legou-nos uma descendência respeitável. São ramos de sua família os Oliveira Pinto de nossos dias, fervorosos espíritas dedicados à caridade humana.
Até aí, a saúde dos nossos antepassados estava nas mãos desses profissionais mais os benzedores e raizeiros e se suas meizinhas descomplicadas não resolvessem só havia dois jeitos de se fazer um tratamento: ir a Uberaba, ou chamar um médico de lá. Qualquer dos dois tinha que ir (ou vir) em lombo de burro ou em carro de bois. Às vezes, quando o “doutor” chegava, o doente já estava curado ou morto.
Preocupado com essa situação que se arrastou até depois da emancipação do município, o povo se reuniu e resolveu contratar um médico. Naqueles tempos havia a curiosa estirpe dos profissionais itinerantes que ficavam uns tempos aqui, outros acolá, de povoado em povoado, como jogador de futebol. Estavam sempre onde lhe pagassem melhor o “passe”.
Esses médicos tinham família que se fixava em algum lugar, mas sustentavam-na circulando com seus conhecimentos.
A comunidade procurou o dr. Carlos Gabaglia. Ele pediu, por um ano em Uberabinha, seis contos e seiscentos mil réis. Era muito. Os habitantes se reuniram, juntaram as economias disponíveis e conseguiram apenas cinco contos e oitocentos mil réis.
Era 1895. A Câmara Municipal já estava em sua segunda legislatura. O experiente Vereador, Augusto César Ferreira e Souza, que já tinha sido Deputado Provincial em Minas Gerais e Agente Executivo em Uberabinha, resolveu socorrer a população entrando com um Projeto de Lei no dia 7 de janeiro propondo complementar a verba levantada pelo povo. Só que a Câmara também não tinha dinheiro. O jeito foi emitir uma Nota Promissória que o “doutor” aceitou.
Ficou apenas um ano. Mas nesse período teve intensa vida social. Foi, entre outras coisas, escolhido presidente da comissão que organizou os festejos da inauguração da estação da Mogiana.
Não sei se partiu para outra cidade, se voltou para o seio da família, o que houve. Mas, foi-se. Vencido o contrato, fez as malas, tomou um trem na Mogiana e nunca mais apareceu.
Segundo o dr. Longino Teixeira, Gabaglia teve movimentada clínica.
Foi o nosso primeiro médico. Merecia até uma rua. Por sorte, a linha de ferro que o levou trouxe-nos, no mesmo ano, o primeiro médico fixo, o dr. Rafael Rinaldi que ficou aqui até falecer. Foi o anjo da guarda do nosso povo. ( Fontes: Atas da Câmara, jornais da época, dr. Longino Teixeira).

*Jornalista e escritor – Uberlândia – MG