*Marília Alves Cunha*

Se fosse possível cruzar o homem com o gato, melhoraria o homem, mas pioraria o gato.”
Mark Twain
Janeiro chegou e com ele o prenúncio de uma nova vida, onde nada será como antes. Mês recheado de promessas, projetos, adeus àquela viver errado e sem método, no qual todo o fazer hoje é deixado para amanhã e até para o ano vindouro.
O despertador toca, trazendo à lembrança que o “ano que vem” chegou. Levanto-me ainda aturdida de sono, abandonando a cama quente e as cobertas que me abraçaram com carinho. A promessa de caminhadas, exercício matinal de efeitos miraculosos para a saúde precisa ser cumprida, ainda que sob protestos do corpo sonolento. Abro a porta da varanda do quarto: Putz! A chuva cai fininha, mansa, fazendo aquele barulhinho gostoso que induz à preguiça… Infelizmente a mudança de vida vai ter que esperar um pouco. Volto correndo para a cama, onde um calorzinho ainda permanece e me aconchego no emaranhado que sobrou da noite.
Ligo a TV, hábito que cultivo desde que me aposentei e costuma ser a primeira ação do dia. Dou de cara com a Ludmilla (se não me engano antes era Ludmila, depois enfiaram mais um L no nome. Coisas da numerologia…). A moça cheia de entusiasmo, com seus rebolados e trejeitos peculiares canta: “Eu fiz um pé, lá no meu quintal/tô vendendo a grama da verdinha a um real/minha mãe já perguntou/ o meu pai já perguntou/ minha avó já perguntou/ que plantinha é esta meu amor…e vai por aí afora. Além do ritmo horrível que chamam de funk e o cometimento de atentado à “última flor do Lácio, inculta e bela”, soma-se o escárnio à lei, em horário nobre de TV. Que pena, já ouvi esta cantora em músicas de fino gosto. Sua voz bonita e seu talento são indiscutíveis. Tudo bem, fazer o que? Há quem goste e apoie este tipo de coisa…
Por falar em lei, janeiro é também um mês muito benéfico para as nossas pobres cabeças. O Congresso está em recesso, o STF também e até o presidente resolveu dar uma descansada. Deus seja louvado! O 2019 nos presenteou com uma “Lei contra abuso de autoridade”, em resposta ao Pacote Anticrime tão aguardado. Fomos também atropelados com a deformação do Pacote Anticrime, recortada a prisão em 2ª. instância e assistimos às modificações impostas na Reforma da Previdência, com objetivo precípuo de tornar mais privilegiadas, classes já privilegiadas e tornar mais profundas certas desigualdades. Assistimos perplexos o prende e solta dos criminosos de colarinho branco, que prejudicaram imensamente a nação brasileira e a criação de outros mecanismos que visam dificultar o combate á corrupção. Para coroar tudo isto, criaram um “jabuti” na legislação brasileira – o juiz de garantias. Este “jabuti” veio na contramão de tudo que precisávamos. Ideia absurda de uma elite política anacrônica que, infelizmente, dita ao seu bel prazer os rumos deste país e assim, como em outros tantos momentos, reage e faz frente à Lava Jato e seu legado.
Copiando “O Antagonista”: “A grande ironia da chegada do juiz de garantias no nosso sistema jurídico foi a forma como foi contemplada. A ideia foi embuchada no Pacote Anticrime do Ministro Moro, como um verdadeiro cavalo de Troia. Certamente foi soprada no ouvido do deputado Marcelo Freixo, que só fez psicografar seu texto. Resta agora saber, por uma curiosidade masoquista, de qual “entidade” partiu de fato esta ideia”.
O plano de reduzir o custo Brasil e tornar mais céleres os processos no judiciário podem cair por terra, com a criação deste tipo de “jabutis” que servirão, de fato, aos que não têm interesse em prover o combate à corrupção.
Enfim, vamos procurar viver bem o 2020, apesar das asperezas do caminho. Dizem que desejar com força e insistência transforma sonhos em realidade. Vamos, então, desejar com força e insistência que o 2020 seja bom para todos os brasileiros. Que haja paz, liberdade e respeito mútuo. Que possamos, como uma verdadeira nação, compreender o alcance dos nossos atos em busca de compreensão e conciliação, para conseguirmos chegar a um destino mais promissor e seguro.

*Educadora e escritora – Uberlândia – MG