Marília Alves Cunha*

Nunca prestei muita atenção no Gugu Liberato, raras vezes assistí seus programas. O formato demasiadamente popular, por vezes até bizarro não me agradava. Mas sei agora que eram do agrado de grande parte da população brasileira. Gugu Liberato foi um fenômeno de popularidade .Para mim eram desconhecidas a vida do artista, seu modo de ser, seu relacionamento com o público, sua vida pessoal, o carinho e amor que angariou dos amigos, fãs e colegas de trabalho, seu envolvimento forte com a família. Era apenas um astro a mais no universo composto pela classe artística brasileira.
De repente o Gugu morre. Sem mais nem menos. Uma queda que poderia ser uma simples queda, sem maior gravidade, tira a vida do apresentador. Uma decisão precipitada, uma vontade de resolver as coisas a hora e a tempo, acabam por gerar tragédias. E nos levam também a pensar no perigo que representa uma queda dentro de nossas próprias casas e no que elas podem causar de risco a nossa saúde e a nossa vida, ao cuidado que devemos tomar numa fase de vida quando a capacidade funcional e cognitiva diminuem inexoravelmente.
Gugu não me chamou a atenção em vida, o faz agora na morte. Não daquela maneira meio grotesca com que dizemos: Todo mundo é bonzinho e bonito depois que morre… O apresentador fez mais do que existir, viveu uma vida plena. Deixa o Brasil comovido, com milhares de pessoas agradecendo sua generosidade, com milhares de pessoas enaltecendo sua simplicidade, com milhares de pessoas chorando muito e sinceramente. Chorando por um homem que veio para vencer, para se impor pela sua vida pessoal e pelo sucesso de uma carreira, iniciada ainda na juventude.
E quem nunca pensou seriamente em doação de órgãos, se vê agora diante de mais este último ato de generosidade de Gugu Liberato. Seus órgãos foram doados a seu pedido e representam a possibilidade de vida e saúde para 50 pessoas. É um gesto bonito, um gesto maior que sai apenas dos corações de pessoas que carregam dentro de sí um sentimento que extrapola sua própria vida.
Nas redes sociais circula um vídeo mostrando o momento em que o corpo de Gugu era levado à sala onde seria feito o procedimento. Nos Estados Unidos, quando um paciente faz doação de órgãos, médicos, enfermeiros e familiares fazem fila, à passagem do corpo do doador, em homenagem a este gesto humanitário. É conhecida como “Caminhada do respeito”. E é linda e emocionante esta caminhada, assim como a oração que se faz no momento. Penso que muitos assistiram o vídeo e derramaram lágrimas, como eu. Lágrimas por uma pessoa que, na morte, deu um exemplo edificante de amor ao próximo, lágrimas por uma família que respeitou incondicionalmente a vontade de seu membro. Que seja um grande incentivo este gesto de amor, bondade e solidariedade.
Acompanhei o carinho com que o Brasil inteiro se despediu do Gugu. Fiquei fã, apesar de tardiamente, daquele rapaz louro, simpático, criativo, simples, que foi habitar outro plano, mas deixou marcas indeléveis de sua estadia aqui na terra. Daquela pessoa que viveu com intensidade, não apenas existiu. Não é qualquer um que faz isto não!!!

*Educadora e escritora – Uberlândia – MG