Ivan Santos*

Dizem os teóricos da democracia que um governante democrata deve se guiar pela opinião pública. No Brasil, a opinião pública majoritária entende hoje que o poder financeiro do governo é ilimitado e que o tesouro público tem recursos infinitos para financiar benefícios para os pobres. Na prática de governança democrática, o gestor do orçamento se depara com recursos escassos para financiar programas sociais criados por vontade política, algumas demagógicas.

Todo desejo da opinião pública deve ser respeitado, mas um gestor público responsável e sério não pode gastar mais do que arrecada nem “fazer o diabo” para ganhar eleição. Se o fizer, o tesouro endivida-se, a dívida cresce sem controle, a economia do país se desorganiza e a população sofre as consequências com inflação acima da meta, desemprego crescente e contas desalinhadas. Foi o que aconteceu no passado governo do PT-PMDB e aliados.

No Brasil, os grupos que saíram às ruas e gritaram “Fora Dilma” se recolheram e alguns podem hoje pensar que com um liberal conservador na chefia do Governo, o desajuste nas contas públicas será sanado e os erros de governos passados serão eliminados. Ledo engano. Para recolocar o trem nos trilhos vai ser preciso muito trabalho, muita articulação política, paciência e compreensão diante dos obstáculos a transpor.

Os grupos que ocupam espaços nas redes sociais para apoiar e defender hoje o governo do Capitão-Mito, não são ingênuos nem ignorantes. No mínimo querem fazer o povão acreditar que a simples oposição a petistas e esquerdistas é suficiente para cobrir um rombo de R$ 90 bilhões nas contas do governo, previsto para este ano. O governo do Capitão-Mito até agora não tem um projeto confiável para reativar a produção econômica, nem para gerar empregos e distribuir renda. Também não tem plano confiável nem recursos para combater a corrupção e a criminalidade organizada.
O governo do Capitão não tem oposição nem projeto de governo. Tem muito papo furado que leva nada a lugar nenhum. Chegamos ao fim do primeiro ano. 2019 está no fim. A reforma da Previdência pode ajudar o governo, a longo prazo, a controlar as contas públicas, mas não serve para reativar a economia. A reforma Administrativa está emperrada antes de ser apresentada e a Tributária, num ano de eleições como 2020, dificilmente andará no Congresso. Então, o presidente, no ano que vem, poderá apresentar mais um projeto para liberar o porte de armas. Para quê? Simplesmente para que a segurança continue a ser uma fantasia como tem sido nos últimos anos. A Tigrada está anestesiada e nada vê no horizonte. Assim continua esperando Godot no cerrado tropical e pronta para combater comunistas e fantasmas.

*Jornalista