J. Carlos de Assis

Os Estados Unidos acabaram de introduzir perspectivas de uso de armas nucleares na América do Sul. O recém-firmado acordo da Colômbia para entrada na OTAN, formalizado no último dia 31 de maio, equivale a um acordo nuclear sob controle norte-americano. Se o Brasil tivesse governo, se nossa diplomacia não estivesse sob comando de um amador, como Aloysio Nunes, este seria momento propício para evitar esse irresponsável acordo colombiano mediante nossa decisão de nos retirarmos do Acordo contra a Proliferação Nuclear.
A iniciativa da Colômbia está ligada, obviamente, ao principal ponto de tensão continental que é sua rivalidade com a Venezuela. A Venezuela, por seu lado, fez um acordo limitado com a Rússia, prevendo visitas periódicas de não mais que três navios da frota daquele país ao mesmo tempo. É difícil entender esse acordo como ameaça real à Colômbia. Contudo, os norte-americanos não perdem tempo. Procuram, de toda a forma, confrontar a Rússia em territórios de outros países a fim de assegurar a sua busca de hegemonia.
Fizeram isso na Europa Oriental: em poucos meses a OTAN avançou sobre a fronteira russa engolindo nove e posteriormente mais três países da antiga órbita soviética. Os russos reagiram. Primeiro evitaram a entrega da Geórgia à OTAN, e posteriormente estancaram o avanço ocidental sobre a Ucrânia. Nesse caso, o país foi virtualmente dividido e a Criméia, após um plebiscito consagrador, foi de novo incorporada à Rússia. Isso correspondeu ao estabelecimento de um limite para o avanço da OTAN na Eurásia: na fronteira da Rússia, não.
A nuclearização da Colômbia é um passo para o ataque à Venezuela, que eventualmente poderá recorrer ao apoio russo. Aí, com a Rússia fortalecida militarmente – coisa que não aconteceu em outros momentos da expansão da OTAN -, teremos mais uma situação na qual as duas potências se enfrentam em territórios de um terceiro país, sob a garantia de virtual destruição mútua, como na Síria. Note que os norte-americanos jamais se comprometeram a não usar armas nucleares num primeiro ataque. São facínoras potenciais.
Em algum momento dos próximos meses um novo governo brasileiro, recuperando a dignidade internacional construída no governo Lula, a qual foi perdida no governo Temer, poderá exercer a sua soberania colocando na mesa de negociação a questão nuclear. Sua ficha para esse jogo é simples: caso a Colômbia não recue da decisão estúpida de se integrar à OTAN, o Brasil se retira do Acordo de Não Proliferação Nuclear e anuncia publicamente que irá construir a bomba, já que temos conhecimento científico e industrial suficiente para isso.
No mesmo movimento, o Brasil deveria se oferecer para mediar os potenciais conflitos entre Colômbia e Venezuela. Isso, obviamente, deve respeitar plenamente a soberania dos dois países. Putin observou certa vez que os Estados Unidos devem parar de querer mudar os regimes de outros países. Está certo. Pessoalmente, perdi a simpatia para com a Venezuela por conta da incompetência de seu governo no campo econômico e social. Entretanto, quem deve resolver os problemas venezuelanos é seu povo, não a Colômbia ou os Estados Unidos.
P.S. Essa notícia, pelo que me consta, não saiu na Grande Mídia escrita brasileira, na Globonews ou na Bandnews. Seus geopolíticos devem achar que não tem interesse para o Brasil!

*Professor de Economia e jornalista. Autor dos livros: A Chave do Tesouro: Anatomia dos escândalos financeiros: Brasil, 1974-1983; Os Mandarins da República: Anatomia dos escândalos na administração pública, 1968-1984; A Dupla Face da Corrupção e Os sete mandamentos do jornalismo investigativo.