Gustavo Hoffay*

Desde os mais remotos tempos da humanidade, o álcool provoca diversas tragédias na vida em sociedade. Tres mil anos antes de Cristo, Foushi, imperador chinês, mandou decapitar quem havia inventado o fabrico do vinho e cujo consumo era ocasião de tantos males naquela nação. Os gregos – por sua vez – aprenderam com os fenícios a vinicultura, mas os abusos decorrentes do consumo daquele bebida fez que Dracon, político e severo legislador ateniense,por volta de 600 a.c, instituísse a pena de morte para os ébrios e proclamou que a defesa das crianças contra o vício do álcool era um dever patriótico. Quanto aos romanos, esses deixaram-se seduzir tanto pelo álcool que, diz-se, o seu consumo exagerado teve relevante importância para a decadência do império romano. Santo Agostinho já lamentava, indignado,que as solenidades dos mártires fossem ocasiões para orgias alcoólicas. Daí por diante não cessaram as advertências de muitos a respeito do perigo do alcoolismo, termo criado em 1.852 por Magnus Huss e quem chegou a descrever as mais evidentes conseqüências daninhas do álcool. Mas somente cem anos mais tarde, a Organização Mundial de Saúde declarou ser o alcoolismo um grave problema de saúde pública. Essa doença passou, então, a ser classificada como a terceira moléstia que mais mata seres humanos em todo o mundo. No Brasil…..assistimos crianças sendo servidas de bebidas alcoólicas em bares, restaurantes e festas populares, sob os olhares de autoridades e até pelos próprios pais, como se tal atitude fosse algo comum, corriqueiro. E se uma criança tem a infelicidade de possuir uma herança genética de pais alcoólatras, ela tem aumentada em muito a possibilidade de – em futuro próximo – começar a desenvolver a dependência por aquela sutil substância, quando consumida de forma abusiva e constante. No Brasil, calcula-se, existem atualmente cerca de vinte milhões de pessoas que consomem álcool diariamente e muitas das quais começaram a usar daquela bebida quando ainda crianças.Pior: cada alcoólatra gera, em média, três co-dependentes químicos que, também, passam a ter a necessidade de um tratamento específico e mesmo que nunca tenham ingerido sequer uma gota de álcool em toda sua vida. O que era para ser um simples “bem estar”, relaxamento e motivo de comemoração em reuniões sociais e familiares, pode originar uma série de danosas conseqüências. Tratamentos para a interrupção do alcoolismo existem em todos os quadrantes do planeta e dos mais variados tipos, mas para evitar-se o seu inicio ocorre exatamente o contrário em nosso Brasil, visto ser vergonhoso o fato de gananciosos comerciantes não respeitarem a lei 13.106/15 e que criminaliza quem vende, fornece, serve, ministra ou mesmo simplesmente entrega a menores bebidas alcoólicas, sob pena de detenção que pode chegar a quatro anos e multa de até dez mil reais, além do infrator ter interditado o seu ponto comercial.Na qualidade de ex-diretor do Conselho Municipal Antidrogas, quando da sua criação em nosso município, lembro-me de várias propostas que foram por nós apresentadas à Câmara de Vereadores local e com o firme de propósito de diminuir a incidência do alcoolismo em menores de idade e mesmo de crimes diversos e originados do abuso daquela substância, em vão. Em vista das angustiantes situações geradas pelo consumo de álcool por menores de idade também em nossa Uberlândia espero, sinceramente, que as nossas autoridades municipais mantenham algum rígido controle sobre o comércio de bebidas alcoólicas a menores e dessa forma possam contribuir para que seja evitada uma série de sérias conseqüências psicológicas, comportamentais, familiares sociais e até psiquiátricas, quando não trágicos acidentes e crimes diversos. Presumo o quanto deve ser difícil manter-se uma constante vigilância sobre o comércio daquela bebida em nossa cidade mas creio, sim, que o juizado da Infância e Juventude da nossa Comarca certamente já dispõe de meios que possibilitem tal prática, tendo em vista a necessidade crescente de um rigoroso combate a essa fonte geradora de grandes males físicos, psicológicos, sociais e familiares em meio à sociedade. Beber é bom, desde que moderadamente e sob controle.

Presidente do Conselho Curador daFundação Frei Antonino
Uberlândia-MG .