Marília Alves Cunha*

Esta foi a expressão usada pelo bandido com cara de mau, acompanhado de dois comparsas, quando iniciava mais um assalto a um pequeno comércio na cidade de São Paulo. Pois bem, sob a mira de uma arma o comerciante gordinho só faltou entregar a alma a Deus e ainda passou pelo terror de ser obrigado a levar os meliantes para dentro de sua casa, vizinha à loja. Morreu mil vezes de humilhação, estarrecimento, pavor, vendo a turma cabulosa ameaçar sua família e, sem pressa e sem constrangimentos, fazer a limpa. Na saída a ameaça: se abrir a boca e chamar a polícia, não viverá para se alegrar. Se liga aí, brother! O pobre comerciante chamou a polícia. Não é isto que se deve fazer? Mas já está fazendo planos para encerrar o comércio, conseguido às duras penas, mudar de casa, começar de novo do quase zero. O medo move agora as atitudes desta família…
Casos como este e muitos outros ainda piores, frequentes e constantemente relatados pela mídia nos deixam indignados. Espalharam por aí que vivemos numa democracia. Mas que democracia é esta, onde o cidadão de bem vive sob o achaque constante da violência, da insegurança, da incerteza? Que democracia é esta que só existe nas letras da Constituição, com seu amplo rol de direitos e salvaguardas que não conseguem atingir a população? Que democracia é esta que não nos permite a liberdade de viver as nossas vidas num mundo sem muros altos, câmaras de segurança, grades e cercas elétricas?
De vez em quando alguém se incomoda com isto. De vez em quando alguém se preocupa com a crescente criminalidade que deixa o país em desassossego. Alguém que já se tornou conhecido na sua terra e além do território nacional, pelo empenho no combate à corrupção sistematizada que deixou o país à beira da falência, que não acha normal e não banaliza a triste situação a que chegou a pátria amada. Que considera devam ser atacadas questões centrais, como a corrupção, o crime organizado e os crimes violentos. Alguém que consegue traduzir as aspirações de um povo cansado de viver espoliado de todas as maneiras e que, diante de tanta inércia dos poderes constituídos, se vê desprotegido e desesperançado. Sérgio Moro, com sua competência e espírito público, propõe medidas e invoca as casas de lei para refrear um quarto poder que se estabeleceu no Brasil e para, de alguma maneira, fortalecer uma legislação que se tornou ineficaz e leniente no combate à criminalidade crescente.
O Projeto de lei Anticrime, proposto pelo Ministro da Justiça, anda a passos lentos na Câmara Federal. Em contraposição, os ilustres deputados e senadores, encastelados no reino da fantasia, onde tudo é fácil e sereno, votam uma vergonhosa lei eleitoral, que só poderia ser pensada num país imerso em prosperidade e riqueza e uma Lei contra Abuso de Autoridade, que é na realidade um abuso contra os cidadãos deste país, uma afronta à Justiça. Como disse um ilustre Procurador da República, esta lei vai tornar muito difícil investigar e punir o criminoso do colarinho branco que rouba milhões. O braço da lei vai certamente ficar mais curto e alcançar apenas o pé rapado que furta migalhas… Na avaliação de juízes, promotores e delegados de polícia, o texto encampado pelo Congresso enfraquece a Lava Jato e missões similares e tem um tom de intimidação que cria insegurança jurídica.
Enquanto isto nos distraímos criticando o presidente, ás vezes por bagatelas que não valem uma linha de jornal, prestamos atenção à menina Gretha, com o discurso decorado e raivoso que a levou a ONU, nos queimamos nas labaredas da Amazônia e choramos sua destruição iminente que já dura anos e anos e nos entretemos, enfeitiçados pela fé ou pelo fanatismo, com as opiniões de personalidades mundiais que teimam em fazer críticas nem sempre dignas de confiança ao nosso país e a sua condução. Enquanto isto tudo se trama, contra nossos interesses.
Valha-nos Deus! Delegamos ao Congresso Nacional poder para que nos represente. Mas o que estamos assistindo á a antítese da democracia e a quebra de confiança que deveria ser estabelecida e firmada entre os representados e seus representantes. Esta máxima valiosa “o poder emana do povo e por ele será exercido” parece que não passa de um simples detalhe na nossa ampla e complicada Lei Magna. Foi para as calendas a Constituição Cidadã, proclamada com orgulho por Ulysses Guimarães. PERDEU, BRASIL!

*Educadora – Uberlândia – MG