Gustavo Hoffay*

Desde que o mundo é mundo e nações elegem ou submetem-se passivamente (ou não) aos seus respectivos governantes, milhões e milhões de pessoas tornam-se dependentes de regras, leis e decretos que moldam e regem a sua vida. São e já foram mandatários negros, brancos, amarelos, baixos, obesos, altos, magricelas, barbudos, sem pelo, de olhos pretos, castanhos, azuis, verdes , com pontes de safena ou dentaduras ( mas, antes de tudo, claro, governantes ) que têm ou já tiveram a obrigação de participar ativamente da política e sem a qual, evidentemente, não como há como administrar sequer uma simples moradia, uma “república” de estudantes, um lar, um pensionato…..Governar, sim, é a arte de gerir em vista do benefício de alguém, de todos, de algo, de muitos ou mesmo de poucos. E ser político, ao menos teoricamente, é trabalhar visando o bem e nunca cometer ou sequer coadunar-se com alguma injustiça em relação ao povo governado. E para não cometer-se qualquer arbitrariedade, homens e mulheres probos ,inteligentes e dedicados devem fazer da política partidária não um meio de vida, mas um período de suas vidas que exige uma exclusiva dedicação parlamentar e em vista de um tempo de aderência às expectativas de quem deles espera-se sadias soluções para a vida em comunidade. E um político é reconhecidamente político quando, por sua inteligência e pelo seu desejo de solucionar, faz acontecer o que dele espera-se em termos de virtudes. E em relação à pessoa acertadamente humana, íntegra e praticante da justiça, nunca ouvi dizer que a religião fosse fator determinante quando da escolha de uma autoridade em um país democrático. Católico, espírita, evangélico, umbandista, judeu, hindu ou testemunha de Jeova , não importa, enfim, a crença de quem pratique a política ou a justiça; certo é que qualquer um de nós, homens e mulheres, devemos ter respeito pela própria grandeza e natureza de qualquer outra criatura humana e termos a preocupação da aplicação da verdade e do direito; mas infelizmente o que se vê na prática não é isso e principalmente quando há interesses pessoais e religiosos em jogo…. A mim, pessoalmente, não importa e jamais importou-me se determinado juiz é membro dessa ou daquela igreja, pastor, padre, cruzeirense ou flamenguista se, antes do mais, ele visa a dignidade do homem e a qualidade e o respeito da convivência em sociedade. E digo isso em função de, recentemente e na presença de uma multidão de evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado que indicará um “juiz evangélico” para ocupar o honroso cargo de ministro do Superior Tribunal Federal. Ora….teria o presidente Bolsonaro uma indevida e até perigosa concepção de que fieis de outras crenças religiosas, são inaptos a ocupar determinados cargos no quadro de pessoal da República e por tratarem-se de pessoas corruptas e imorais? Certamente que não, é o que prefiro acreditar. Porque, então,o presidente manifestar-se pública e espontaneamente daquela forma? Onde consta que políticos e técnicos do alto escalão do governo federal seriam todos inaptos ao cargo de ministro do STF, caso não sejam dessa ou daquela religião? Não deve-se “queimar” a imagem de alguns competentes juízes, caso comprove-se que são fiéis de uma determinada igreja e, portanto, mais sujeitos a erros e fraquezas que qualquer outro de sua mesma classe funcional…! Competência profissional não pode servir de medida enquanto baseada na fé de cada um; digno de louvor e honrosas considerações a um meritíssimo e excelentíssimo juiz, indiferentemente da sua crença e de ser ou não “terrivelmente” fiel de alguma igreja. Já houve até quem dissesse que Bolsonaro cometeu crime de discriminação religiosa – exagero é claro – mas que há a necessidade do nosso presidente deixar de fazer do seu mandato e do Palácio do Planalto uma espécie de palco eleitoral, disso eu não tenho qualquer dúvida. O que o Brasil precisa é de uma bússola, de um norte e que sirva de indicador para competentes ações nas áreas relacionadas à economia , saúde, segurança e educação , além de políticos que assumam as suas funções com consciência e razão, ao contrário de ser com a barriga e o coração. Se “ter filho gay é falta de porrada”, como o próprio presidente já enfatizou enquanto congressista, ter ministro “terrivelmente” evangélico é enfatizar a sua condição de ter sido batizado a poucos anos na Assembléia de Deus, embora dizendo-se católico e imaginando prestigiar uma Igreja que basta-se a partir dos seus próprios méritos. A verve palavrosa do Mito está em constante ascendência e deveria, dada a sua primorosa posição no cenário político federal, ser menos enfaticamente escabrosa. Talvez ainda por sentir-se em lua-de-mel com o cargo “Número Um” do Executivo Nacional, o Mito deixe-se extrapolar em algumas das suas enfáticas declarações e o que, penso, deveria motivá-lo a fazer uma pessoal e criteriosa analise que vise convencer a si mesmo a adotar uma auto disciplina naquele sentido.

*Agente Social
Uberlândia-MG