Ivan Santos*

As críticas que o presidente Jair Bolsonaro teria feito aos governadores do Nordeste, na semana passada, não me surpreenderam. Elas apenas confirmaram que o político Bolsonaro, que passou 28 anos na Câmara combatendo “comunistas” imaginários, homossexuais e inimigos da religião e de Deus, não mudou depois que se elegeu presidente da República. Bolsonaro continua a combater pessoas que pensam diferente do que ele pensa e imagina que há adversários petistas e comunistas camuflados em todos os ministérios e repartições do governo tramando contra a administração dele. Enquanto combate moinhos de vento com discursos deslocados da realidade e faz postagens nas redes sociais, ele ainda não se deu conta que há uma crise econômica que produz reflexos negativos no tecido social do País e que mantém, pelo menos, 25 milhões de trabalhadores sem emprego, em atividades informais e em serviços que rendem baixa remuneração.
Enquanto o presidente se dispõe a nomear o próprio filho para embaixador nos Estados unidos porque ele fala inglês e já fritou hamburger naquele país para custear estudos, mais de duas mil indústrias pequenas e médias fecharam as portas no Estado de São Paulo nos últimos dois meses e outras milhares estão ameaças no Brasil por causa da crise que mantém mais de 80 milhões de brasileiros endividados sem poder de consumir no mercado.
O presidente tem se preocupado com porte de armas, redução de custos em serviços públicos, demissão de adversários políticos, filmes que ele considera deseducadores para a juventude, questões de preferência sexual e outras mazelas comportamentais. Não apresentou nos primeiros seis meses nenhuma medida para reativar a produção econômica para gerar emprego e renda. Para reaquecer a economia, o chefe do governo anunciou a liberação de mais de R$ 49 bilhões de dinheiro do FGTS. Fez o anúncio sem estudo prévio e sem medir consequências. Quando alguns agentes do mercado alertaram que a “bondade” anunciada poderia prejudicar a construção imobiliária e jogar milhares de trabalhadores no desemprego, o presidente parou pra meditar.
O governo do Capitão especializa-se em criar conflitos desnecessários, mas foi isto que o político Bolsonaro fez durante 28 anos como deputado federal. Está custando para o “guerrilheiro social conservador” descobrir que ele agora é o presidente da República e deve governar para gregos, troianos e baianos.

*Jornalista