Antônio Pereira da Silva*

Quando comecei a pesquisar o passado de Uberlândia, lá por 1983, notei que a Estrada de Ferro Mogiana, chegada a Uberabinha em 1895, teve uma importância fundamental para a história do município. Não demorou muito para que tivesse contato com a ponte Afonso Pena, sobre o rio Paranaíba, inaugurada em 1909, unindo os estados de Minas Gerais e Goiás, e vi que também foi de vital para importância para nós. Tanto a Mogiana quanto a Afonso Pena eram pedras fundamentais na construção da história econômica do Triângulo Mineiro. Suas facilidades, seus impulsos eram válidos e importantes para todos os municípios da região. Evidentemente aproveitaram-se dessas condições aqueles que já detinham a liderança comercial na região, Uberaba e Araguari. Uberabinha era apenas um povoado modorrento, cochilando à margem da Mogiana. Alguma coisa boa também chegou aqui, mas pouco.
Quando topei com a estrada do Fernando Vilela, inaugurada, segundo seu engenheiro, Paes Leme, no dia 7 de setembro de 1912, até levei um susto.
Era a semente do vigoroso desenvolvimento econômico de Uberlândia. Era a única estrada da região e unia Goiás e o Triângulo Mineiro à zona consumidora de matérias primas e produtoras de manufaturas fundamentais para as economias primitivas. Do Centro Oeste, incluindo parte de Mato Grosso, descia para a zona litorânea arroz, feijão, borracha, gado, couros, fumo, milho, ouro etc e subia para cá enxadas, foices, pólvora, sal, arame farpado, tecidos, armas, remédios etc. Tanto o que subia, quanto o que descia, estacionava antes de seguir para o seu destino, em Uberabinha. Aqui se transformou no pião econômico do Brasil Central com a construção dessa estrada. Por isso, a vocação comercial de Uberlândia, por isso a vocação atacadista distribuidora. Eu elegeria como símbolo de Uberlândia um caminhão carregado.
Fernando Vilela, nome de uma de nossas principais vias, nasceu no distrito de Canápolis, na fazenda Pirapitinga.
Foi Agente Executivo de Ituiutaba, de 1908 a 1911 onde deixou obras valorosas, como a primeira distribuição de água potável para as residências no Triângulo Mineiro. Em Uberaba já havia uma, porém, particular. A do Fernando foi de órgão público. O primeiro cinema do Pontal, o primeiro Grupo Escolar da região, a primeira instalação telefônica, de sua fazenda à casa de um parente na cidade.
Deixando Ituiutaba, Vilela veio para Uberabinha, trouxe o engenheiro Paes Leme, fundou a Companhia Mineira Auto Viação Intermunicipal e construiu sua estrada que saia daqui, passava por Monte Alegre e Tupaciguara, ia até a ponte Afonso Pena e tinha um desvio para Ituiutaba. Setenta por cento da produção goiana passava pela ponte Afonso Pena e vinha para cá. Todos os produtos advindos do litoral com destino ao Triângulo, Goiás e parte do Mato Grosso, exceto para Uberaba e Araguari, desciam aqui. Não bastasse isso, as estradas do Fernando Vilela tiveram um certo vigor histórico para o rodoviarismo nacional: foi a primeira estrada de rodagem para veículos automotivos, construída no Brasil. Essa história está toda contida no livro de devo lançar brevemente e que você, leitor, já está convidado a conhecer.

*Jornalista e escritor