Gustavo Hoffay*

Nunca pensei em conhecê-lo e mesmo porque eu não via muita razão para, simplesmente, ir até lá ou estar lá; tempos atrás era algo totalmente fora da minha realidade, distante mesmo dos meus propósitos o simples fato de ao menos passar pela sua porta ou sequer ter o interesse de saber a sua exata localização. A vida corrida, os compromissos diários com o trabalho, a busca delirante pelo dinheiro para a sobrevivência, outros afazeres “mais importantes” ,enfim ,eram sempre a minha prioridade. Um dia,entretanto, quis o destino, não somente passei pela sua porta; adentrei aquele local e logo senti a presença de algo que não se vê, mas que era facilmente perceptível nos olhos e até através dos pequenos movimentos de pessoas que ali estavam e que passavam por mim, enquanto cumprimentando-me e mesmo que apenas com pequenos gestos de cabeça ou um ligeiro sorriso: a esperança, a fé; sim, esses sentimentos eram quase que palpáveis naquele ambiente onde a paz engajava-se a emoções e onde as pessoas pareciam estar envolvidas por um clima de confiança e amor fraterno, sincero. Ali nada pareceu-me vazio e inútil, despropositado ou exagerado. Correndo os olhos um pouco mais por aquele ambiente, logo percebi a existência de uma pequena sala que pareceu-me um local de orações, onde pairava um clima de comunhão e remanso. Passados poucos minutos eu já estava sendo recebido por uma simpática e atenciosa atendente que, por alguns instantes, fez eu esquecer que eu era portador de uma das mais temidas doenças e ao ponto de responder as minhas questões e satisfazer algumas das minhas curiosidades com espantosa naturalidade, em momento algum desfazendo-se de um largo e simpático sorriso. Até chegar ali, devido a muito que eu já tinha assistido pela TV ou ouvido falar para obter-se a cura daquela doença e onde, também ali, ela não era temida mas tratada com bastante naturalidade, trilhei caminhos e ouvi algumas pessoas que já haviam alcançado o mesmo que eu buscava; todas elas muito solícitas e desejosas de tranqüilizar-me quanto aos próximos passos que eu deveria dar. Quanto a mim, cumpria-me a pessoal tarefa de continuar esperançosamente lutando com toda a força da minh’alma, pois eu estava ali para entrar em um bom combate em defesa de mim mesmo, pelo ideal que é a minha própria vida! E depois de ver encaminhado o meu ingresso ao tratamento tão fervorosamente aguardado aprendi, entre outras coisas, que o temor da luta por um ideal não é digno das grande almas.O Hospital do Câncer de Uberlândia tem oferecido-me a oportunidade de ver um outro lado da vida e o qual eu mesmo tratei de obscurecer enquanto, por quase toda a minha vida, eu buscava única e freneticamente o sucesso e a satisfação pessoais plenos. A todos os profissionais, voluntários e empresas que contribuem pela manutenção em alto nível dos serviços ali oferecidos, o meu humilde porém sincero parabéns; a todos aqueles que ainda não conhecem a relevância daquele hospital para o tratamento de pessoas afetadas pelo câncer, deixo aqui a minha dica para que o conheçam e talvez, até, sejam despertadas pelo desejo de contribuir, de alguma forma, com aquela casa de saúde. Que lindo trabalho pela vida!Se o câncer continua sendo um dos maiores males da humanidade, naquele local ele é combatido com o que de mais importante sempre existiu e continua a reinar sobre os homens: o amor! Sim , pois nada nesta vida tem a responsabilidade de completar o que temos em falta ou em pouca quantidade: o amor, a solidariedade e o calor humano. “Bem Vindo à Realidade”, deveria ser a frase em uma hipotética placa logo à entrada daquele hospital, especialmente dirigida a pessoas que ainda ignoram o trabalho realizado além daquela grande porta, a verdadeira “Porta da Esperança”. E, reabilitado, é meu sincero desejo ser aprovado para fazer parte daquela legião de homens e mulheres que trabalham para amenizar dolorosas expectativas, com muito amor, fé e alegria.

Agente Social – Uberlândia-MG