Ivan Santos*

O presidente Jair Bolsonaro, que passou 28 anos como deputado na Câmara Federal, pelo que disse a respeito do general Santos Cruz, nada entendeu sobre articulação política. Segundo o jornal “O Estado de São Paulo”, edição online de sábado passado, Bolsonaro afirmou que “Santos Cruz tinha difícil articulação conversando com parlamentares”. Disse também que o substituto de Santos Cruz, também general do Exército, “tem comportamento alegre e isso vai ajudar a quebrar barreiras, com toda certeza”. Quebrar barreiras na Câmara e no Senado e levar os parlamentares a votar a favor dos projetos do Governo. Ledo engano.
Os parlamentares, principalmente os da velha política, não querem conversar com intermediários, sem autoridade para garantir o cumprimento de acordos firmados entre o Governo e eles. Quem garante o cumprimento de acordos no Parlamento é quem tem uma caneta com tinta e autoridade para nomear, demitir e liberar recursos do orçamento para obras e serviços. Para quem não entende o que é articulação política no Brasil demos aqui um exemplo:
Em Uberlândia o Hospital de Pronto Socorro da Universidade Federal está em construção há mais de 10 anos e, neste momento, com as obras paralisadas. Numa articulação, o deputado que representa a cidade, negocia o voto dele num projeto de interesse do Governo com quem tem autoridade e competência para liberar recursos que garantam a continuação das obras do Hospital. Noutro momento negocia recursos para equipar o Hospital e, em outro, para garantir o funcionamento do serviço público de saúde. Para isto precisa negociar com quem possa garantir o acordo. Se o representante do governo assumir um compromisso e for desautorizado pelo presidente da República, ele perde a confiança e passa a não ter competência para articular coisa alguma.
Na semana passada, o presidente da República disse, para o Brasil inteiro entender, que no Governo quem manda é ele. Então, a articulação política com representantes do povo no Congresso, precisa ser feita pelo presidente que, se não cumprir o que tratar, também perderá a confiança e se transformará num chefe de governo desacreditado. Articulação política é coisa séria e a maioria dos parlamentares não está no Congresso para exercício de faz de conta. Se o general Luiz Eduardo Ramos, que substituiu o general Santos Cruz na Secretaria de Governo espera que conquistará apoio dos deputados e senadores para os projetos do Governo, sem dar nada em troca, pode tirar o cavalinho dele da chuva. Vai engolir um fracasso retumbante.
*Jornalista