Ivan Santos*

O presidente Bolsonaro, aos poucos, vai se transformando numa espécie de rainha da Inglaterra, que manda, mas não governa. Aos poucos os militares que ocupam ministérios, em silencio, vão assumindo as tarefas executivas mais complexas na política externa e na interna. Pelo menos ficou visível está situação na viagem do general Mourão a China onde foi recebido como chefe de Estado e nas articulações do general Santos Cruz, chefe da Secretaria da Presidência da República em Paris, para afirmar que o Brasil não está subordinado aos caprichos políticos do presidente Trump, dos Estados Unidos. A pauta de interesse do Governo no Congresso tem sido negociada em silêncio pelo general Santos Cruz e não pelo presidente da República que passou o tempo a cuidar de pautas populares como a contagem de pontos na carteira de motorista infrator, multar por falta de bancos para crianças nos automóveis e facilitação para a expedição de porte de armas. O decreto que facilita a compra de armas poderá ser revogado no decorrer desta semana ou na próxima pelo Congresso.
O presidente também tem anunciado decisões sem pensar nas consequências sociais e econômicas. Foi assim na semana passada quando defendeu em Buenos Aires a adoção de uma moeda comum no Mercosul, o Peso Real. Bolsonaro tomou a decisão sem ou vir a equipe econômica e sem pensar nas consequências. O chefe da política econômica do governo da Argentina ouviu a proposta com espanto e disse polidamente que a equipe técnica que ele chefia vai analisar o assunto.
A fase de experimentação do estilo de governar do Presidente vence no final do primeiro semestre, ou no fim deste mês de junho. A partir do mês que vem vai ser preciso apresentar ações para enfrentar a estagnação econômica e gerar produção, empregos e renda. Como o presidente não dá sinal de que assumirá nenhuma dessas pautas, os militares que têm cargo no Governo o farão, certamente, com apoio das Forças Armadas numa retaguarda silenciosa, o farão. Esta decisão tem a finalidade de sinalizar ao mundo que no Brasil há um governo sério que tem um programa objetivo e claro para enfrentar e resolver complexos problemas sociais e econômicos. O clima de campanha eleitoral poderá ser matéria periférica tocada por deslumbrados da Nova Política. A séria e boa política será tocada em silêncio, fora das redes sociais.

*Jornalista