Marília Alves Cunha*

Até meados do ano passado a política no Brasil me parecia nebulosa e sem rumo, com uma ex-presidente “ impichada”, um ex-presidente condenado e preso, um presidente em exercício sob investigação depois de uma interlocução estranha, no meio da noite, com um bandido. E ainda, dezenas de políticos nas malhas da justiça, investigados ou presos e uma certeza de que, no Brasil, o publico e o privado se emaranhavam de tal maneira que nem os próprios que faziam o emaranhado se davam conta de quando um terminava e começava o outro. Os candidatos já despontavam e não me diziam grande coisa. Ou eram candidatos improváveis, em farsas que por si só já depunham contra o partido ou eram ruins demais e conhecidos por suas vidas pregressas, ou ainda desconhecidos que não me seduziam. Premida pela circunstância de ter que votar, pois sempre fui absolutamente contra o voto branco e nulo, comecei a prestar atenção em Bolsonaro. O seu discurso de luta contra a corrupção, e muito especialmente a esperança de ter um Moro no Ministério da Justiça foram me conquistando. A decisão definitiva veio com o atentado. O que será que este homem representava de perigo para o que estava posto, um Brasil duramente castigado por escândalos, conchavos, dinheiro na cueca, nas meias, nas malas, saindo pelo ladrão, dinheiro a rodo subtraído covardemente e criminosamente do povo brasileiro e indo engordar o bolso de assaltantes políticos, empresários e funcionários de estatais? A certeza veio no dia do atentado, no momento em que ouvi uma pessoa, ainda mal informada, dizer com voz histérica e olhos cheios de sangue : “Mataram Bolsonaro”…
Mataram não! Ele foi candidato, ganhou a eleição num pleito eleitoral absolutamente democrático. E quem gostar de democracia só quando esta atender aos seus próprios interesses e venha a favor de seus próprios benefícios, sinto muito. O povo brasileiro escolheu! Depois de cinco meses em que o governo eleito passou ao exercício de suas funções, após anos da mais absurda usurpação e subtração do erário público, Jair Bolsonaro tenta governar, mas há dificuldades. Não é perfeito, claro. Perfeitos não foram, de maneira alguma os que o antecederam, muito pelo contrário. Não compreendo esta luta que se empreendeu para minar o combate à corrupção, bandeira de Bolsonaro. Depois de uma dura luta da Lavajato, cutucando no que há de mais importante nos altos escalões nacionais, descobrindo e elucidando tenebrosas transações, vejamos o que está acontecendo: O STF decidiu que as Assembleias Legislativas podem revogar as decisões judiciais que determinavam a prisão de deputados estaduais. Se a Assembleia do RJ assim o desejar, poderá mandar soltar toda aquela penca de deputados que estão presos por roubalheira indiscriminada e provada. E voltarão eles felizes, sob a chancela de uma suprema corte, a legislar para o querido e pobre Estado do Rio de Janeiro. E acontecerá também nos outros pobres Estados. Contrariando toda a lógica, a Câmara decidiu que o Coaf, antes completo desconhecido, agora objeto de desejo de muitos, saísse das mãos de Moro e fosse para outro ministério, apesar do bom senso e da necessidade mostrarem claramente onde deveria ficar o tal Conselho… Como se não bastasse, ainda decidiram que os auditores fiscais não podem investigar o aumento injustificado de patrimônio detectado e descobrir indícios de lavagem de dinheiro e organização criminosa. É ver, balançar a cabeça e calar, para gáudio de muitos corruptos que se veem assim, livres de mais uma ameaça. Para completar, o STF confirmou o famigerado indulto de Temer, ou seja, corrupto pode sair da cadeia e se ver aliviado de todas as suas culpas, crimes e penas. E, por incrível que pareça, há quem aplauda estas medidas aberrantes, pecaminosamente contrárias ao que deseja e necessita a sociedade brasileira.
O governo está trabalhando. Reforma da previdência, vista como necessária até por muitos ex-presidentes que a defenderam, mas se acovardaram na sua proposição. Pacote anticrime, urgente e necessário para o país e sua população… em que estrela esconderam este sério e ambicioso projeto que pode golpear a corrupção, o crime organizado, os crimes violentos tão comuns no nosso país? Medidas provisórias a pique de terem extintos os prazos, paradas por um Congresso obtuso, representado por seus presidentes que se recusam a ligar os motores, acelerar e fazer o Brasil começar a caminhar. É só para contrariar ou é pelo que a gente está pensando mesmo?

*Educadora