Marília Alves Cunha*

Em visita a Paris, há muitos anos atrás, não pude deixar de conhecer um dos pontos turísticos mais conhecidos do mundo, a Catedral de Notre Dame. A construção da bela obra de arquitetura gótica, iniciada em 1163, durou 200 anos. Fiquei por um grande espaço de tempo admirando aquela maravilha, repositório de grandes obras de arte e de uma beleza que eleva a alma e nos remete ao divino. Semidestruída por um incêndio há poucos dias, é palco agora de uma grande polêmica, devido às ricas doações feitas para sua reconstrução, não só por franceses, mas também por pessoas de outras nacionalidades. Sinceramente, não vejo motivo. Esta obra de arte única, singular, merece e muito ser reconstruída rapidamente. Há coisas no mundo que, se perdidas, jamais voltarão a ser feitas. O mundo moderno, com sua absoluta falta de tempo, de quietude e de contemplação perdeu a possibilidade e a capacidade de construir estas maravilhas. A Catedral de Notre Dame é patrimônio não apenas dos franceses, mas constitui-se por seus aspectos artísticos e culturais, patrimônio de toda a humanidade.
Ainda ressentida com o desastre da Notre Dame, recebi um presente magnífico de um amigo querido. Consiste num powerpoint contendo 15 slides da famosa obra de Michelângelo, a Pietà. Em 1964 a escultura foi levada a New York e um fotógrafo ,Roberto Kupka, encarregado de fotografá-la durante toda uma noite. Ela foi então retratada em preto e branco, em todos os ângulos e de todas as formas possíveis. Fizeram inclusive um furo no teto para captar o rosto de Cristo, sempre escondido do nosso olhar. Quando perguntado sobre a contemplação da Pietà, Kupka respondeu: “Pela primeira vez em minha vida, me encontrei ante a verdadeira beleza”. Respondeu bem, a escultura é fascinante, atrai as pessoas que não conseguem sair de perto sem se reter nos mínimos detalhes da fabulosa imagem. Agradeço ao amigo o presentaço.
Algumas curiosidades sobre a Pietà: Michelângelo tinha apenas 24 anos quando aceitou a encomenda, em 1498. A obra levou 2 anos para ser concluída e apresentada na Basílica de São Pedro. O escultor demorou 9 meses na escolha da pedra mármore de carrara para começar o trabalho. Considerada uma obra que ultrapassava as esculturas dos antigos romanos e gregos, o autor angariou grande fama. Sabendo que muitas pessoas não acreditavam que ele tivesse feito sozinho a escultura, devido á sua pouca idade e por ser a obra de tal beleza, Michelângelo voltou à Basílica durante a noite e gravou seu nome na faixa da Virgem. Lamentou-se mais tarde pela reação de orgulho e prometeu nunca mais assinar outro trabalho. E assim o fez. O Cristo na imagem tem um dente a mais (o dente do pecado).Segundo um historiador de Arte, na Pietà este dente a mais é sinal de como Cristo, com sua morte, lava os pecados do mundo. A Virgem conserva o aspecto adolescente e parece mais jovem que o filho morto. Ao ser perguntado e criticado sobre o fato, Michelângelo respondeu: “As pessoas enamoradas de Deus nunca envelhecem”.
Em maio de 1972 a obra foi alvo de um ataque brutal, quando um geógrafo australiano, com um martelo, desferiu golpes na face e no braço da Virgem. Desde então, a imagem está protegida por uma parede especial, de vidro á prova de balas.
Desejo ardentemente, um dia, voltar à Catedral de Notre Dame e vê-la inteira e fabulosa, para a nossa admiração. E sentir de novo, na Basílica de São Pedro, em Roma, a emoção genuína e forte que me tomou de assalto diante da Pietá. Nunca poderei me esquecer do impacto que me fez tremer e me levou às lágrimas. Foi bom demais ver estas maravilhas e guardá-las carinhosamente, no mais profundo e bonito das minhas lembranças.
( Consultas ao Google e slides)

*Educadora