Ana Maria Coelho Carvalho*

Cada fase da vida tem suas características e umas são melhores, outras piores. Uma das fases difíceis é quando começamos a “caducar”. E não há como fugir disso, pois a vida é um ciclo, que vai de babando a caducando.

Tenho um conhecido que está nessa fase e as conversas dele são uma loucura. Sempre que nos encontramos, batemos longos papos e damos boas risadas. Ele gosta de contar que tem treze formaturas e que fala fluentemente quatro línguas: inglês, francês, china e bagdá. E que agora está aprendendo os pauzinhos do Iraque. Conta que trabalha para a NASA e que tem livre acesso à base militar montada em Anápolis. Acrescenta que sabe dirigir qualquer tipo de caminhão e que pilota avião a jato. Disse que está comprando um trailer de três andares para viajar pelo mundo com minha filha, pois sabe que ela gosta muito de viajar e vai levá-la para conhecer Cancun. Eu comecei a rir, argumentando que é muito longe para ir de trailer. Ele disse que então vai de avião a jato e chega lá em cinco minutos. E que também vai levá-la na Avenida Paulista para ela comprar centenas de camisas lindas e baratas e revendê-las a cinco reais cada. Conta que é dono de vários prédios na Avenida Paulista, que ganhou de herança do avô. Completa a conversa dizendo que conhece muita gente importante e que arranjou emprego no Palácio da Justiça para uma moça de Morrinhos. Rindo, conta que ela é muito burra, mas que conseguiu um salário de dezoito mil reais para ela.E por aí vai.

Fico imaginando que qualquer um de nós pode passar por isso, é só uma questão de tempo. Eu mesma já ando misturando tudo. Chamo a minha cachorrinha pelo nome do filho e o filho pelo nome da cachorrinha. Esqueço as panelas no fogo, as torradas no forno, o ferro ligado e queimo tudo. Estou ficando perigosa. Falta pouco para pensar que também trabalho na NASA.

Em outra fase, estão as crianças. Num mesmo dia, encarnam o Batman, o Super Homem, o Homem Aranha. Colocam uma capinha e pulam de lugares altos, pensando que podem voar (muitos se estatelam no chão). Entre uma coisa e outra, têm conversas muito lúcidas. Como o meu neto, quando estávamos conversando sobre vacas e porcos. De repente, ele soltou a seguinte generalização: “-Todas as vacas são fêmeas”. E o outro, muito briguento, quando comentei que eu estava feliz porque ele tinha melhorado o comportamento, olhou-me bem nos olhos e disse com seriedade: “-É, as coisas mudam!”

No meio da fase dos idosos e das crianças, estão adultos bem loucos, gritando conversas escandalosas ao celular, nos locais menos apropriados. Como a mulher que ouvi na sala de espera do aeroporto, bem alto: -“O que? Mas já, na lua de mel?” Pausa. Todos por perto olhando para o alto, fingindo não escutarem. “E agora, você ainda vai ficar com esse canalha? ” Pausa. Mistério.

Tem também a conversa que ouvi na padaria, de outra mulher (será que as mulheres são fofoqueiras?). Ela repetiu bem alto, várias vezes, pois parece que a pessoa do outro lado era um pouco surda: “-A Ritinha entrou hoje na justiça, quer a metade da casa. Descobriu que foi “chifrada” durante estes anos todos”. Puxa, será que todo mundo precisa saber que a Ritinha foi chifrada?

Bem que diz o ditado: “de médico e de louco, todo mundo tem um pouco”

*Bióloga