Antônio Pereira da Silva*

A Revolução de 1930, que depôs Washington Luiz e entronizou Getúlio Vargas no comando no país, foi justificada por várias causas, entre elas, talvez a mais importante, a existência da fraude nos processos eleitorais. Pode-se dizer, tá certo, só que, em seguida, criou-se a eleição indireta que pode chegar a ser uma fraude institucionalizada. Com a fraude, o Governo nunca perde; com a eleição indireta, também não.
O “estouro” da Revolução pegou um de seus próceres regionais, o Tito Teixeira, cuidando de suas linhas telefônicas lá no Estado inimigo, Goiás. Eram revolucionários os Estados de Alagoas, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. A lentidão das comunicações permitiu que o Tito saísse das terras inimigas sem qualquer constrangimento. Ele tinha recebido a notícia por telefone em casa de um compadre seu, em Rio Verde. Como o compadre ficasse instigado por aquela estranha ligação, apertou o amigo que acabou contando a verdade e pedindo-lhe que não falasse nada a ninguém até que ele atravessasse a ponte Afonso Pena. Goiás só soube do “estouro” depois que o Tito estava do lado de cá.
Tirante o lado trágico, as revoluções de antigamente não eram pitorescas?
Houve um outro fato curioso.
Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Alagoas levantaram uma revolução contra o Governo do país. O Governo do país é protegido por suas Forças Armadas. Logo depois das eleições, que o Governo ganhou e o Getúlio perdeu, Washington Luiz fez demonstrações de força, tentando intimidar os derrotados nas urnas. Na verdade, nem se acreditava em luta armada entre compatriotas.
Os Estados rebeldes tinham a proteção de suas Polícias. O Governo Federal, por seu lado, tinha as Forças Armadas, um poderio maior e melhor preparado para esse tipo de confronto. Pertinho de Uberlândia havia um Batalhão do Exército: ali em Ipameri – a poucos quilômetros daqui. Se essas forças decidissem invadir o Triângulo, as possibilidades de sucesso dos revolucionários seriam bastante reduzidas. Afinal, a Força Policial de Goiás estava em Itumbiara e as forças paulistas em vários pontos do vale do rio Grande. O Triângulo poderia ser cercado.
Praticamente no mesmo dia em que Tito Teixeira escafedeu-se do território goiano, o Senador Camillo Chaves chegava a Uberlândia, pela Mogiana, vindo de Belo Horizonte, para assumir o comando Geral no Triângulo. Nem saiu da gare. Tomou um trem de carga e seguiu para Araguari. Estava bastante preocupado com a possibilidade de o Sexto Batalhão de Caçadores, do Exército, participar das lutas que viriam. Boatos corriam soltos de que os soldados já se aproximavam do rio Paranaíba com a finalidade tomar Araguari, Uberlândia e Uberaba. Em Araguari, pelo telégrafo, Camillo Chaves entrou em contato com o coronel Pirineus, comandante do Sexto. Foi com alívio que o Senador soube que suas tropas estavam de prontidão, porém permaneciam no Quartel e não havia qualquer plano de deslocamento e invasão do Triângulo.
Camillo Chaves suspirou tranquilizado e comunicou seus comandados de que a batalha mais difícil estava superada.
De volta a Uberlândia tomou as primeiras providências administrativas criando algumas Comissões e nomeando pessoas para dirigi-las.
Tirante o lado trágico, as nossas revoluções de antigamente não eram, mesmo, pitorescas? (Fontes: Tito Teixeira, Diário da Revolução).

*Jornalista e escritor