Antônio Pereira da Silva*

                       Porque não os há mais. Não adiantou os comandantes da nossa administração pública, de 1964 prá cá, incluírem no currículo escolar matérias como Educação Moral e Cívica; o civismo foi pro brejo mesmo e aquelas paradas bonitas e emocionantes do Sete de Setembro perderam o brilho que a presença maciça do povo realçava. O Sete de Setembro é a festa máxima da nacionalidade e tem que ser festejado com amor, respeito e sacrifício, se preciso.

                               Nos velhos tempos do civismo espontâneo, uma festa cívica era marcante. Vejamos, por exemplo, como foi o Sete de Setembro de 1917 na velha Uberabinha. Às seis horas da manhã todos os edifícios públicos hastearam a Bandeira Nacional. Horário instituído por Lei. Às oito horas da manhã, sob o comando do Primeiro Tenente Francisco Arruda Câmara, os Atiradores do Tiro de Guerra, já de pé desde as cinco, percorreram as principais ruas da cidade precedidos por uma banda de clarins. Às doze horas, a meninada do Grupo Escolar Bueno Brandão, que era o único da cidade, adentrou às salas e os professores fizeram preleções explicando o que era o Sete de Setembro para a nacionalidade brasileira. Quando foi às 16 horas, começou a chegar gente na praça da República (hoje, Tubal Vilela). De repente, a praça regurgitava. Eram famílias inteiras que pretendiam tomar parte no préstito que ia se organizar para sair às 17 horas. Nesse horário, teve início o desfile. Puxando a passeata vinha a Banda União Operária, a seguir, de novo, a rapaziada do Tiro de Guerra, agora conduzida pelo Diretor Raulino Cotta Pacheco; ladeando os Atiradores iam meninotas do Grupo Escolar vistosamente uniformizadas de branco, com chapéus, e conduzindo nas mãos pequenos mastros com bandeirolas verde-amarelas. Depois do Tiro, vinham três andores que carregavam mudas de plantas. Suas condutoras eram associadas “Maria Ephygênia” e vai aí uma sugestão às nossas feministas. Que associação feminina era esta? No comecinho do século? Vale a pena uma pesquisa. As associadas traziam um fitão distintivo. Os andores eram escoltados pelo Batalhão “Benjamin Constant” formado por alunos do Grupo Escolar.

                               No fim, seguiam as famílias e populares.

                               O préstito desceu a avenida Afonso Pena e parou na Praça da Liberdade (hoje, Clarimundo Carneiro), diante do Paço Municipal (já era o prédio que hoje virou Museu). Nos canteiros havia covas previamente preparadas. As condutoras dos andores aproximaram-se delas. Em seguida aproximou-se também outro andor conduzido por duas alunas do Grupo Escolar contendo uma enxada nova. Honório Guimarães, Diretor do Grupo, convidou o Major Leôncio Chaves, Agente Executivo em Exercício, mais o Tenente Arruda Câmara e o empresário Arlindo Teixeira para fazerem o plantio das três árvores que ficaram dispostas de modo a formarem um triângulo. Paraninfaram o ato os Coronéis Constantino Rodrigues da Cunha e Alfredo Vilela. Conclamando o povo a conservar as árvores falou o Diretor Honório Guimarães.

Em seguida, reorganizou-se o desfile que voltou para a praça da República.

                               As comemorações solenes do Sete de Setembro deram-se ao ar livre, no meio da praça, com a mesa diretora formada no centro do jardim. Compuseram-na o Diretor do Grupo, Honório Guimarães como Presidente, mais o Atirador Secretário Pedro Salazar Pessoa Filho, o empresário Umberto Giffoni e o jornalista Urias Andrade. Talvez pelo próprio ardor cívico, nossos compatriotas daquele tempo adoravam um discurso. Por isso se fizeram tantos naquele dia. O primeiro, oficial, foi do professor Quirino Pires de Lima, sobre a data e as circunstâncias históricas que conduziram a ela. Em seguida, falou o ginasiano Racine Vilela. Encerrou as atividades o Tenente Arruda que falou por mais de uma hora. Mas o povo gostava tanto de discursos (quem sabe por falta de rádio e televisão?), que as últimas palavras da incendiada peroração foram mal-ouvidas, abafadas por muitas palmas e muitos vivas. Por fim, o professor Honório encerrou as solenidades com vivas aos poderes constituídos do Município, do Estado e da União.  (Fonte: jornais “A Escola”, dos alunos do Grupo Escolar Bueno Brandão).

*Jornalista e escritor