José Carlos Nunes Barreto*                        

“Quem vai andando e chorando enquanto semeia, na volta trará alegre nos braços sua colheita” Salmo de David

A Embrapa é uma empresa estatal brasileira a quem devemos nossa revolução verde- a explosão da produção de grãos na savana brasileira, a partir de pesquisas e estudos, financiados pelo estado brasileiro, já na década de 70, e responsável pelo nosso superávit na balança comercial. Hoje salta à vista a importância deste empreendimento como tábua de salvação para as populações rurais do País e para a crescente indústria de farmacologia nacional, pois há a necessidade de nos apropriarmos de saberes milenares sobre princípios ativos que curam doenças e estão sendo dizimados pelo avanço da destruição do bioma cerrado.

 A propósito, num parêntesis poético,  relato que , no caminho entre Uberlândia e BH, ele agracia a passagem com uma verdadeira tintura  da  floração dos ipês amarelos, sob a exuberância do pôr de sol, a altivez dos buritis enfileirados em intermináveis veredas, e nos encanta por sua generosidade, beleza de suas flores, sabor e fartura de  seus frutos – amostra de sua rica biodiversidade, além da hospitalidade e sabedoria de sua gente, de posse do vigor de suas águas, agora maculadas pelas atividades predadoras do agronegócio e da mineração.

Falando em farmacologia – leia-se pesquisas  em laboratórios  internacionais para remédios do dia a dia, algumas professoras primárias neste meio rural brasileiro, que atinge11 estados, sem farmácias por perto, já produzem em hortas nas escolas, várias espécies de ervas medicinais, infusões e chás  usados pelos alunos, após verificarem que, ao adoecer na escola, os mesmos eram obrigados a retornar para casa para serem atendidos por mães e avós, que, por conhecerem o poder curativo da flora, ministravam esses chás e infusões às suas famílias.

A Embrapa percebeu a janela de oportunidade para mapear estes saberes e encurtar o trabalho de pesquisa.  A partir destes eventos em escolas públicas, nas quais, após estudarem os efeitos curativos dos princípios ativos, ousou decifrá-los quimicamente, além de adotar um plano de ação para disseminar estufas com mudas, que seriam utilizadas em hortas escolares, e em plantações industriais voltadas para o fornecimento de insumos, para laboratórios farmacêuticos estatais ou não. Todavia, como toda área de pesquisa e Inovação do País, sofreu severos cortes antes e após a recessão do governo Dilma, e por isso este projeto anda de lado, à espera de recursos, como milhares de outros, que à exemplo dele, são literalmente, salvadores da pátria.

Haja vista o lobby de laboratórios transnacionais que possuem patentes em andamento, e estão presentes nos corredores dos palácios e do Congresso Nacional, mostrando a poderosa força do vil metal entre os venais do planalto central do País, travando o processo, fraudando dados, trapaceando e podendo vir futuramente a matá-lo, caso a sociedade não haja e se articule a tempo.

Urgente é, portanto. Que os poderes constituídos , casas legislativas, ministérios públicos, judiciário como um todo, Academia e executivos municipais estaduais e federal,  estejam unidos, primeiro, para salvar o cerrado, preservando princípios ativos que nem sequer conhecemos ainda, depois, para fortalecer estas políticas nascentes contra o poder  estabelecido  por estes conglomerados econômicos, que estão dispostos a privatizar este conhecimento em proveito próprio ( Como estão a fazer com os grãos transgênicos ou não,  além do uso do cancerígeno randup ), fomentando uma exponencial concentração de renda, e impedindo que se salvem vidas, pelo poder curativo das plantas que a natureza já nos proporcionou.               

*Pós – doutor e Sócio diretor da Debatef Consultoria