José Carlos Nunes Barreto*                              

“Por favor /Deixe em paz meu coração/Que ele é um pote até aqui de lágrima/E qualquer Desatenção/Pode ser a gota d´água.”Chico Buarque

Uma ida ao teatro no fim de semana em que o STF tenta enterrar a Lava jato, pode ser o gatilho para reflexão pesada sobre a vida ,a família, nosso País e a política .Talvez por ser  inspirado pela cultura de Medeia , pagã e bela, uma história de reis e feiticeiros, no texto de Eurípedes mais de 5000 anos, injetada pelos gênios de Chico Buarque e Paulo Pontes, em nossa realidade urbana .

Não poderia pois deixar de ser um texto político, pois retrata uma mulher, Joana, madura, sofrida , com dois filhos, moradora de um conjunto habitacional, em uma unidade pertencente à Creonte- rico e poderoso dono das casas e do poder político, sendo um corruptor por excelência. Seu marido, Jasão, forte e vigoroso, bem mais jovem que ela, e compositor de sambas- patrocinado por Creonte-  a ama, mas vai se casar com Alma, jovem bonita e escultural filha do senhorio…


Por isso sai de casa e se afasta da mulher e dos filhos, que tanto quer. E em fim trágico, Joana mata os filhos com veneno e depois se enforca, quedando no cadafalso da morte, desiludida. Tudo isso em meio aos fios bordados pelas músicas de chico Buarque, iniciado como o tema supra citado, e que dá nome à peça, imortalizada  por décadas, na voz de Bibi Ferreira.


Procuro separar as coisas, pois não sou alinhado às teses canhotas do autor, todavia, aplaudo sua vocação e talento, principalmente em canções e textos, em que  se coloca no lugar das mulheres, em triste época que as mesmas , buscam por igualdade, e  como nunca antes, numa verdadeira epidemia, são mortas por seus parceiros,  que não lhes dão o direito de refazer suas vidas. (só em pensar em feminicídio dá arrepio, em quem respeita suas mulheres, é marido, pai e avô de meninas)


Em licença poética, pedindo vênia aos leitores: vejo  Creontes , para nós que amamos a liberdade e a democracia, como os 11 ministros do STF, que se acham  acima das leis e do próprio País. E nossa população, seria a Joana, que o desespero pode levar à loucura do suicídio, diante das vicissitudes da realidade , torcida e moldada pelos capa pretas sem misericórdia,  que , todavia se postam do lado errado da história , como as maria- antonietas da revolução francesa.


Tentar matar a lava jato pode ser a gota d´água…Venceremos com   o povo, e nosso lema , como o daquele tempo, será  liberdade, igualdade,  e fraternidade!

*Pós – doutor e sócio diretor da DEBATEF Consultoria