Gustavo Hoffay*

       A prevenção ao uso de drogas pode (deve) ser ensinada em escolas públicas? Em caso positivo, não seria isso um atentado contra “liberdade de consciência dos educandos”, como gostam de apregoar alguns ferrenhos “defensores” da democracia? Aos mestres não caberia apenas apresentar teorias e opções de vida saudável, as desvantagens decorrentes do consumo de drogas e a seguir deixarem a decisão de usá-las ou não a critério de cada aluno, ao invés  de colocarem-se totalmente contrários àquela prática? Vez e outra algumas escolas promovem palestras antidrogas para todos os seus alunos, pois os seus diretores julgam que deve-se tratar desse assunto de maneira coletiva e em nome da dignidade humana, subjacente ao título de cidadão e independentemente de qualquer credo religioso. Há quem diga que os jovens não consideram tratar-se de um problema o uso de alguma substância alteradora do humor e que sequer estariam interessados em valores morais. Ora! Ainda que tais dizeres fossem verídicos, não deveria-se omitir a educação para a continência, pois compete às escolas elaborarem a programação dos seus estudos e não aos alunos. Argumenta-se contra o ensino de prevenção às drogas nas escolas, a partir da observação de que em uma sala de aula pode ter alunos cujos pais fazem uso ocasional ou mesmo habitual de alguma droga como o álcool, por exemplo. Conseqüentemente, dizer que o uso de drogas é algo indevido e imoral, implica em condenar os pais de tais alunos por omissão de informações e, de certa forma, causar um mal estar na relação entre eles. É até comum assistirmos pais dizendo aos filhos para não fazerem uso de bebidas alcoólicas e, em seguida, pedirem a algum deles para buscar algumas latas ou garrafas de cerveja no bar mais próximo. Pessoalmente, penso que o enfoque a ser dado a essa matéria não deva ser moralmente neutro ou alheio a uma escala de valores. Pode, sim, mostrar ao governo que o não uso de drogas deve ser um padrão a ser mantido com firmeza e que o contrário seria cair na vala comum de quem rendeu-se à sedução dos poderes originados daquelas substâncias. Deve-se ensinar que o uso de drogas não é simplesmente um ato físico, mecânico e que assemelha-se ao de demais colegas de grupo. Na realidade significa fraqueza de sentimentos e busca por emoções imediatas, falsas, artificiais, máscaras que encobrem algum defeito ou o vazio de  personalidade e de   caráter. É preciso que fale-se de drogas no contexto do casamento, da família, do trabalho, em sociedade e em termos de compromissos com a própria vida. A escola deve dar especial atenção aos professores que abordam o referido tema, pois eles devem servir como modelos de comportamento, referência aos seus alunos (um professor que seja fumante jamais poderia ser indicado).Importante salientar, entretanto,que cabe aos pais ou responsáveis um diálogo franco com os seus filhos e, sentindo-se em dificuldades para abordar o assunto, procurarem informações de onde inteirar-se a esse respeito. Enfim, hoje em dia a previsão ao uso de substâncias psicoativas deve ser preconizada como valor de primeira grandeza não apenas em nome da moral mas, principalmente, em nome da saúde mental da própria família, do bom senso, da lei natural de desenvolvimento físico e psicológico de uma pessoa. É fácil a qualquer um de nós, perceber que o Brasil está em uma fase ascensorial de permissividade ao uso de drogas. O álcool, por exemplo, é vendido livremente a menores de idade em não poucos estabelecimentos e o uso e o porte de maconha já é visto como a algo natural. Espero que cansemo-nos da libertinagem em relação a algumas outras drogas e recuperemos as atitudes de bom senso que muitos “moderninhos” vêm insistindo em menosprezar. Quanto à maconha, especificamente, o controle sobre o uso da mesma é algo impossível; perdemos e toda a sociedade precisa conscientizar-se disso! Resta-nos rezar para que novas e ousadas medidas de prevenção sejam adotadas e muito embora não enxergue-se algum resultado prático do uso de alguma alternativa contra aquela substância. Às famílias, sim, cabe uma maior vigilância. Reitero, sim, sempre que tenho oportunidades para tal, que a educação coletiva ( em salas de aula, por exemplo) contra as drogas e a favor de uma vida em plenitude, ainda que recatada e acompanhada de uma escala de valores, corre o risco de despertar uma inoportuna curiosidade em alguns jovens; daí eu pensar que uma educação sobre drogas não deva ser ministrada coletivamente, mas individual e sistematicamente e de acordo com a evolução do educando, com a participação da sua família e do serviço de orientação educacional de cada escola.

 *Presidente do Cons. Curador Fundação Frei Antonino Puglisi; ex-diretor do Conselho Municipal Antidrogas